«Uma vez
caído nas garras de tais abutres, difícil lhe era salvar-se. Interrogado uma e
outra vez que confessasse os seus erros, instado e por fim torturado, se nada
dizia, porque nada tinha a dizer, visto estar inocente, – embora! – era
condenado como negativo!
Confessava
tudo? – era condenado como confitente!
Mas
confessava parte somente, não tudo o que queriam os seu algozes? – era ainda
condenado como diminuto.
A tortura
arrancava-lhe confissões de delitos, que nunca tinha praticado, não concordando
com os depoimentos das testemunhas? – ainda condenado como ficto e simulado!
No meio da
tortura dizia o que nunca havia praticado, e depois livre das dores anulava as
declarações feitas? – condenado era ainda como revogante!»
MENDES DOS
REMÉDIOS, no prefácio a Vida do Grande D. Quixote de La Mancha e do Gordo
Sancho Pança, ópera jocosa, de António José da Silva, Coimbra, França Amado-Editor, 1905, p. X.
2 comentários:
Bia diz...
Muito esclarecedor. Responde a perguntas que já tinha feito.
Obrigada.
As pesadas e exigentes regras administrativas e protocolares da Inquisição, provavelmente, terão servido de modelo para o futuro...:)
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