15 setembro 2019

UMA NOITE EM LISBOA (II)

Continuo a ler e a gostar do que leio. Em Osnabrück, na madrugada de insónia, Helen e Josef vão conversando e bebendo uma segunda garrafa de vinho do Reno. É o reconhecimento mútuo após anos de separação. Um jogo de sombras, coisas que se dizem e não se dizem. Estão juntos na mesma cama, mas é solidão que respiram.
«Ela continuava sentada em cima da cama, nua, de copo na mão, uma amazona graciosa e frágil, provocante e obstinada, resoluta e astuciosa, e compreendi então que nunca a tinha conhecido. Não conseguia entender por que motivo ela aceitava viver comigo e comparei-me a alguém que julga possuir um belo cordeiro, que o enche de afagos e desvelos e que de repente descobre que o que afaga nas mãos é uma jovem puma, para quem os lacinhos azuis e as carícias nada significam e que inclusivamente é capaz de morder a mão que a acarinha
ERICH MARIA REMARQUE, Uma Noite em Lisboa, Capitulo V.

1 comentário:

Custódia C. disse...

Ai a solidão, sempre à espreita. Há que lhe tentar resistir...
Só hoje vou começar a ler, mas já o folheei e li pequenos excertos. Também acho que me vai agradar :)