10 dezembro 2021

CONTINUANDO COM "O MAR, O MAR"

 FRANS HALS, "Cavalheiro a sorrir" (1624), Wallace Collection, Londres

Continuo a leitura do calhamaço, uma espécie de sexo cósmico, tal como me foi ensinado por Gilbert Opian. Já passei a peripécia* do encontro com Mary Hartley, já estive com Charles nas brumas de Londres naquele fino repasto com o amigo Peregrine Arbelow ( a quem ele roubara Rosina e que depois ficou com Pamela também já roubada por outro). Os casamentos desta autobiografia-romance-diário-memórias são extraordinários, o primo James lá tem as suas ideias sobre o casamento, Charles também, o que ele queria era casar com a que foi o seu primeiro amor, mas essa encontrou-a já casada com um caixeiro-viajante de poucas falas e ruim disposição, mas mesmo assim arrisca... Se Lizzie é Ariel de "Tempestade", Rosina é uma das bruxas de "Macbeth". Teatro, tudo teatro fora dos palcos! No museu da Wallace Collection, Charles viu o "Cavalheiro a sorrir", de Frans Hals. Quem é o cavalheiro sorridente? O marido de Mary Hartley não me parece, o homem não é de sorrisos para desconhecidos. Volto com Charles a Shruff End, grandes provações por que irá passar, e umas atrás das outras. Comecei por o detestar, agora estou com pena dele. Veremos o que acontece, ainda tenho 300 páginas para ler.
* Peripécia, termo do teatro grego, significa um acontecimento inesperado, uma mudança súbita no estado das personagens em acção. 

3 comentários:

Moreira Pereira disse...

Este submundo, subsidiário de
Shakespeare, obviamente vive numa rotação diferente do homem comum londrino. Ao ir para os subúrbios, acentua-se a ruralidade, fazendo do nosso diretor teatral reformado, uma ave rara e fruto do sarcasmo público, daquele lugar perto do mar.

Manuel Nunes disse...

Charles foi para o mar, nadar no Tamisa não é aconselhável. Só no fim viu as focas, ele que logo deu conta da serpente marinha. Claro que era gozado na taberna Black Lion, não podia esperar outra coisa. Director teatral reformado, mas continuava activo na tentativa de exercer o seu antigo poder. Enganou-se. Será que chegou a ter um filho da tal Angie? Quero acreditar que sim, só assim se podia salvar.

Custódia C. disse...

Cheguei ao fim com a imagem de um Charles absolutamente egocêntrico e ... fracassado!