A abrir
“Estava ali havia um bom pedaço
vindo da esquina até defronte do prédio onde ela servia, enervado de esperar
tantos minutos, pois já lhe assobiara o sinal combinado e ela ainda não
aparecera, nem sequer à janela, aquietando-lhe a dúvida que começava a
preocupá-lo.
Naturalmente dera-lhe trela
naquele Santo António por desfastio ou porque a noite convidava à conversa.
Abalara até ao Rossio, embora cansado do trabalho do armazém, mas mais cansado
ainda dos maus modos dos primeiros-caixeiros, piores no trato do que os patrões,
convencidos de que assim chegariam mais depressa a sócios da casa.
Encaminhara-se para ali fugindo à solidão do quarto, que lhe aumentava as dores
de cabeça que trazia do emprego. Tinham fechado mais cedo, porque os santos
eram dias alumiados e, talvez também pelo hábito de sair só depois da uma hora
batida, se sentira atraído pelo ruído da rua. Não procurara com quem
acamaradar; escusara até, com um pretexto qualquer, a companhia de outro
hóspede da casa, entristecido pelas saudades da sua aldeia de mistura com
queixumes da vida. Mudara de fato e saíra, metendo no bolso umas moedas para
beber o seu copo e arranjar, se calhasse, uma moça para passar o tempo, pois,
em noite de bailaricos e fogueiras, as mulheres acessíveis são ainda mais
fáceis…”
In “Os Reinegros” de Alves Redol