29 fevereiro 2024

“Os Reinegros” de Alves Redol - 22 de Março às 20h00

 

A abrir

“Estava ali havia um bom pedaço vindo da esquina até defronte do prédio onde ela servia, enervado de esperar tantos minutos, pois já lhe assobiara o sinal combinado e ela ainda não aparecera, nem sequer à janela, aquietando-lhe a dúvida que começava a preocupá-lo.

Naturalmente dera-lhe trela naquele Santo António por desfastio ou porque a noite convidava à conversa. Abalara até ao Rossio, embora cansado do trabalho do armazém, mas mais cansado ainda dos maus modos dos primeiros-caixeiros, piores no trato do que os patrões, convencidos de que assim chegariam mais depressa a sócios da casa. Encaminhara-se para ali fugindo à solidão do quarto, que lhe aumentava as dores de cabeça que trazia do emprego. Tinham fechado mais cedo, porque os santos eram dias alumiados e, talvez também pelo hábito de sair só depois da uma hora batida, se sentira atraído pelo ruído da rua. Não procurara com quem acamaradar; escusara até, com um pretexto qualquer, a companhia de outro hóspede da casa, entristecido pelas saudades da sua aldeia de mistura com queixumes da vida. Mudara de fato e saíra, metendo no bolso umas moedas para beber o seu copo e arranjar, se calhasse, uma moça para passar o tempo, pois, em noite de bailaricos e fogueiras, as mulheres acessíveis são ainda mais fáceis…”

In “Os Reinegros” de Alves Redol

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