“Babette havia chegado só
pele e osso, com o olhar de um animal acossado, mas neste novo ambiente de
amizade em breve ganhou toda a aparência de uma criada respeitável e de
confiança. Havia parecido uma pobre de pedir; revelou-se uma conquistadora. O
seu rosto sereno, o seu olhar calmo e profundo, tinham propriedades magnéticas;
sob aquele olhar as coisas moviam-se sem ruído e reocupavam os seus devidos
lugares.
A princípio, as amas de Babette quase estremeceram, tal como acontecera em tempos ao Deão, à ideia de receberem em sua casas uma papista. Mas não estava naqueles temperamentos torturar com catequeses criatura tão sofrida; e, vamos lá, também não estavam muito seguras dos seus conhecimentos da língua francesa. Concordaram tacitamente que o exemplo de uma vida de boas luteranas seria o melhor meio de converter a criada. Deste modo, a presença de Babette nessa casa tornou-se, por assim dizer, um aguilhão moral para as suas moradoras…”
In capítulo V de “A Festa de
Babette” de Karen Bixen
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