Funchal, 14 de Novembro de 2011 - Elementos da Comunidade de Leitores no dia da sessão sobre Cabral do Nascimento
Devo dizer que não li muito de Cabral do Nascimento. A obra em que mais me detive, praticamente a única, foi no Cancioneiro de 1943, constituída por quarenta e oito poemas em que emergem os grandes eixos temáticos da sua lírica: a fugacidade do tempo; a condição do homem esmagado entre o passado e o futuro; a Ilha como prisão de quem anda à solta, as grades líquidas que tolhem e projectam o poeta para o circulo alto das palavras e dos sentimentos, porque, como diz com desconcertante simplicidade, o mar ficava no horizonte; e a vida, supremo bem que não se domina, abelha de Ferreira de Castro em Eternidade e borboleta da “Canção Dorida” em Cancioneiro.
Escreveu Maria Mónica Teixeira que Cabral do Nascimento sentiu como um homem de ilha e de continente. Portanto, foi um poeta do chão inteiro da língua portuguesa, língua que começou a formar-se nos cancioneiros medievais que ele tão bem conhecia e amava, sabendo nós, desde Fernando Pessoa, que a língua é a única pátria possível dos poetas.
Perguntava-me uma jornalista madeirense, momentos antes de iniciarmos a sessão, se eu achava que Cabral do Nascimento devia ser estudado nas escolas. Respondi-lhe que sim, pensando embora que o esquecimento é nuvem negra que se abate sobre os poetas e que nos tempos sem alma em que vivemos talvez nem o próprio Camões tenha o seu lugar garantido nos compêndios.
Perguntava-me uma jornalista madeirense, momentos antes de iniciarmos a sessão, se eu achava que Cabral do Nascimento devia ser estudado nas escolas. Respondi-lhe que sim, pensando embora que o esquecimento é nuvem negra que se abate sobre os poetas e que nos tempos sem alma em que vivemos talvez nem o próprio Camões tenha o seu lugar garantido nos compêndios.
5 comentários:
Muito bem!
Um abraço daqui.
Relevo todos os contributos, mormente os mais esclarecidos, como os do Manuel, mas hoje, queria fazer uma espécie de ponto prévio, antes de desatarmos a escrever sobre este assunto:
Para mim, a nossa ida à Madeira, com poetas e escritores na bagagem, tem um saldo extraordinário no que toca a convívio, reforço da amizade que nos une, enriquecimento cultural, etc. Mas o mesmo não se poderá dizer em relação aos conteúdos literários que pelo menos alguns de nós tinham andado a polir durante as semanas que antecederam a viagem. Aconteceu que, pelos melhores motivos, não houve oportunidade de conversarmos um pouco em grupo, ao menos antecedendo a sessão na Biblioteca. Sessão esta, que colheu o melhor da contribuição da Prof. Mónica Teixeira, sobretudo para quem havia tido oportunidade de estudar um pouco o Cabral do Nascimento. Sessão que reuniu uma assistência quiçá heterogénea quanto ao interesse real pelo tema; que permitiu, in extremis, o representativo contributo do Manuel e a opinião de alguns mais, se não contarmos com a intervenção, importante mas autónoma, do Laurindo. Entre o que esta sessão foi, ou pôde ser, e o que podia ter sido, ficou, pelo menos para mim, um enorme vazio, onde cabem, evidentemente, todas as buscas, estudos e reflexões em falta, assim houvesse tempo para tal; mas cabe, sobretudo, a partilha por fazer entre nós, acerca do que cada um colheu das leituras, das pesquisas, pequenas como as minhas, ou mais profundas, como as do Manuel e outros.
Não dispiciendas, cabem também neste vazio as impressões de leitura dos poemas que, julgo, todos fizeram, enriquecidas agora pela experiência da viagem e da sessão. É que, pela primeira vez, a poesia caiu-me no regaço desta forma, quer dizer, de uma forma que pretendia ir para além do simples prazer de ler. E foi uma experiência muito gratificante...E sei que não sou só eu. Por tudo isto, penso que seria extremamente produtivo agendarmos um encontro, ou aproveitarmos uma das nossas próximas oportunidades em conjunto, para conversarmos sobre Cabral do Nascimento, sobre Poesia.
Caro Ricardo,
Lá estivemos no Golden Gate a beber um copo em memória do grande romancista de "Eternidade".
Estivemos no local do antigo lazareto, passámos pelo Hotel Reid´s e fomos às levadas.
Ferreira de Castro foi connosco e não tinha cartão de embarque da Easy Jet.
Minha Amiga M. Amélia,
Como eu te compreendo... Sendo assim, tivemos uma sessão na Ilha, e não escapamos de outra no Continente.
É o nosso fado. A literatura portuguesa justifica tudo!
Esta leitora, está muito feliz por poder partilhar a sessão do Continente!
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