“…Com
excepção de alguns burgueses, na primeira classe, eram operários e lojistas com
as mulheres e os filhos. Como o costume de então era vestir-se sordidamente em
viagem, quase todos usavam velhas barretinas gregas, ou chapéus desbotados,
fraques pretos puídos, lustrosos de roçar nas escrivaninhas, ou então
sobrecasacas cujos botões forrados se esgarçavam, de tanto terem servido nas
lojas; aqui e ali, um colete posto aos ombros como xaile deixava entrever uma
camisa de algodão, maculada de café; alfinetes dourados prendiam gravatas
esfarrapadas; tiras de pano prendiam aos pés pantufas de feltro; dois ou três
vadios, ostentando pingalins com alças de couro, lançavam olhares de esguelha,
e chefes de família esbugalhavam os olhos, fazendo perguntas. Conversavam em pé
ou sentados nas bagagens; outros dormiam pelos cantos; alguns comiam. Cascas de
nozes e de peras, pontas de charuto, restos de chouriço, trazido dentro de
papéis, sujavam o tombadilho; três marceneiros, de blusões, estacionavam diante
da cantina; um tocador de harpa, esfarrapado, descansava apoiado no seu
instrumento; de tempos em tempos, ouvia-se o ruído do carvão de pedra na
fornalha, uma voz que se elevava, uma risada; — e o capitão, na ponte, ia sem
parar de uma roda à outra. Para voltar ao seu lugar, Frédéric abriu a cancela
da primeira classe, passando por entre dois caçadores e os seus cães.
Foi como
uma aparição!
Ela
estava sentada, sozinha, no meio do banco…”
In
A Educação Sentimental de Gustave Flaubert
1 comentário:
Comecei hoje a ler e já embarquei na geografia da viagem do primeiro capítulo, desde o Quai Sanit-Bernard até Nogent-sur-Seine. Sou muito dado a estas excursões imaginárias e os Google Maps dão uma grande ajuda. Espero que se sintam bem com a leitura, ó legentes, mas já ouvi por aí umas coisas que..
Enviar um comentário