Fazer o bom uso das doenças. O estado
de saúde confere uma sensação de imortalidade, uma obsessão por divertimentos e
realizações que não propicia a reflexão e o aperfeiçoamento individual. A
doença pode ser uma oportunidade de melhoramento, por mais contraditório que
isto possa parecer. Em meados do século XVII, Blaise Pascal escreveu um texto sobre
o tema em forma de oração a Deus.
No Hans Castorp d´ A Montanha Mágica está bem presente o pascaliano princípio do «bon usage des maladies». É sob a doença que o jovem engenheiro vive o amor e sente vontade de estudar biologia, ciências médicas e botânica. É
neste estado aparentemente limitador que lhe vem a necessidade de iniciação ao
pensamento filosófico, procurando formar as suas ideias a partir das discussões presenciadas entre o humanista
Ludovico Settembrini e o escolástico Leo Naphta. A comunhão com a natureza, ou
seja, com a vida, é outra inclinação que lhe é dada pela sua estadia no
sanatório Berghof.
Acabei de ler o subcapítulo “Neve” do
sexto capítulo do romance. Hans Castorp aprende a esquiar para melhor conhecer os
espaços maravilhosos da montanha. Fá-lo às escondidas do médico-chefe, o
conselheiro Behrens, que nunca lhe teria dado autorização para o exercício de
desportos físicos. Ele está diagnosticado com um «foco húmido» no pulmão, uma
doença grave de evolução imprevisível.
Este subcapítulo é dos mais belos que
o romance tem. Verão as colegas leitoras quando lá chegarem.
1 comentário:
"Bon usage des maladies"... homem inteligente, o Blaise Pascal!
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