01 maio 2020

MAIS MONTANHA MÁGICA

Fazer o bom uso das doenças. O estado de saúde confere uma sensação de imortalidade, uma obsessão por divertimentos e realizações que não propicia a reflexão e o aperfeiçoamento individual. A doença pode ser uma oportunidade de melhoramento, por mais contraditório que isto possa parecer. Em meados do século XVII, Blaise Pascal escreveu um texto sobre o tema em forma de oração a Deus.
No Hans Castorp d´ A Montanha Mágica está bem presente o pascaliano princípio do «bon usage des maladies». É sob a doença que o jovem engenheiro vive o amor e sente vontade de estudar biologia, ciências médicas e botânica. É neste estado aparentemente limitador que lhe vem a necessidade de iniciação ao pensamento filosófico, procurando formar as suas ideias a partir das discussões presenciadas entre o humanista Ludovico Settembrini e o escolástico Leo Naphta. A comunhão com a natureza, ou seja, com a vida, é outra inclinação que lhe é dada pela sua estadia no sanatório Berghof.
Acabei de ler o subcapítulo “Neve” do sexto capítulo do romance. Hans Castorp aprende a esquiar para melhor conhecer os espaços maravilhosos da montanha. Fá-lo às escondidas do médico-chefe, o conselheiro Behrens, que nunca lhe teria dado autorização para o exercício de desportos físicos. Ele está diagnosticado com um «foco húmido» no pulmão, uma doença grave de evolução imprevisível.
Este subcapítulo é dos mais belos que o romance tem. Verão as colegas leitoras quando lá chegarem.

1 comentário:

Custódia C. disse...

"Bon usage des maladies"... homem inteligente, o Blaise Pascal!