18 maio 2020

GUSTAVE FLAUBERT, "A EDUCAÇÃO SENTIMENTAL" - Leitura do mês -


No final da segunda parte do romance, um bilhete enviado por Deslauriers a Frédéric Moreau diz o seguinte:
«Meu velho,
A pêra está madura. Conforme a tua promessa, contamos contigo. Reunimo-nos  amanhã cedinho, na praça do Panthéon. Entra no café Soufflot. Tenho de te falar antes da manifestação.»
Estava-se em vésperas dos acontecimentos revolucionários de 1848 e esta pêra não era outra que Luís Filipe I, o rei burguês, cuja cabeça os caricaturistas desenhavam em forma de pêra, como na conhecida gravura de Honoré Daumier (1808-1879), O Rei de França como Gargântua.
No traço do artista – que lhe valeu a prisão – o rei é representado segundo a figura do insaciável Gargântua, personagem de Rabelais, recebendo continuamente o alimento que os súbditos são forçados a entregar-lhe e saindo-lhe sob o cadeira do trono, como dejectos, as suas leis e disposições antipopulares.
A acção de A Educação Sentimental decorre de 1840 – em pleno período da chamada monarquia de Julho – até ao golpe de Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão, em 1851.
Sobre o golpe de que nasceu o II Império escreveria Marx as frases célebres de O 18 do Brumário de Louis Bonaparte : «Hegel faz notar algures, que todos os grandes acontecimentos e personagens históricos ocorrem, por assim dizer, duas vezes. Esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.»

1 comentário:

Manuel Nunes disse...

As frases citadas de "O 18 do Brumário de Louis Bonaparte" devem-se ao facto de tanto Napoleão como o sobrinho Luís terem traído os ideais republicanos autoproclamando-se imperadores. Napoleão, pondo fim à 1ª República; Luís Bonaparte à 2ª, de que era presidente, depois da queda do rei Luís Filipe I. Uma tragédia e uma farsa, pelo menos assim foi visto no momento por Marx. O livrinho, edição de 1971, com prefácios de Marx e de Friedrich Engels, pode ter interesse para quem quiser aprofundar uma leitura histórica de "A Educação Sentimental".