No final da segunda parte do romance,
um bilhete enviado por Deslauriers a Frédéric Moreau diz o seguinte:
«Meu velho,
A pêra
está madura. Conforme a tua promessa, contamos contigo. Reunimo-nos amanhã cedinho, na praça do Panthéon. Entra
no café Soufflot. Tenho de te falar antes da manifestação.»
Estava-se em vésperas dos
acontecimentos revolucionários de 1848 e esta pêra não era outra que Luís Filipe I, o rei burguês, cuja cabeça os caricaturistas desenhavam em forma de
pêra, como na conhecida gravura de Honoré Daumier (1808-1879), O Rei de França como Gargântua.
No traço do artista – que lhe valeu a
prisão – o rei é representado segundo a figura do insaciável Gargântua, personagem
de Rabelais, recebendo continuamente o alimento que os súbditos são forçados a
entregar-lhe e saindo-lhe sob o cadeira do trono, como dejectos, as suas leis e
disposições antipopulares.
A acção de A Educação Sentimental decorre de 1840 – em pleno período da
chamada monarquia de Julho – até ao golpe de Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão,
em 1851.
Sobre o golpe de que nasceu o II
Império escreveria Marx as frases célebres de O 18 do
Brumário de Louis Bonaparte : «Hegel faz notar algures,
que todos os grandes acontecimentos e personagens históricos ocorrem, por assim
dizer, duas vezes. Esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a
segunda como farsa.»
1 comentário:
As frases citadas de "O 18 do Brumário de Louis Bonaparte" devem-se ao facto de tanto Napoleão como o sobrinho Luís terem traído os ideais republicanos autoproclamando-se imperadores. Napoleão, pondo fim à 1ª República; Luís Bonaparte à 2ª, de que era presidente, depois da queda do rei Luís Filipe I. Uma tragédia e uma farsa, pelo menos assim foi visto no momento por Marx. O livrinho, edição de 1971, com prefácios de Marx e de Friedrich Engels, pode ter interesse para quem quiser aprofundar uma leitura histórica de "A Educação Sentimental".
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