O leitor pergunta:
Blogue da Comunidade de Leitores da Biblioteca de S. Domingos de Rana - Cascais - Portugal
27 março 2012
"A BRAZILEIRA DE PRAZINS"
O leitor pergunta:
25 março 2012
SIGAMOS A LAMPREIA, SIM
SIGAMOS A LAMPREIA!
A Alexandre O´Neill
Sigamos o cherne, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo (...)
Do livro No Reino da Dinamarca (1958)
na jusante do sexo rubro das águas: afluentes
do sonho e do contentamento contra o abismo
incolor dos dias comuns. Sigamo-la, pois,
já que aqui estamos rendidos ao seu perfil
silencioso, dispostos a aceitar
que subiremos as veias de água
dolorosamente talhadas no corpo da terra,
nos açudes do amor.
JOSÉ RAFAEL
C. Bode, q.-f. c., 25 de Fevereiro de 2004
22 março 2012
AO JOSÉ RAFAEL (Entardecer)
Ah, como gostaria de te levar comigo— diz a criança que passa. Mas quando se debruça para o apanhar, uma onda maior leva tudo consigo: o pássaro ferido, a criança, a luz do dia.
Na profunda quietude da noite, a onda cintila longamente no horizonte perdido.
(Tudo está consumado, diz o luar)
(Aceder aos poemas de José Rafael)
11 março 2012
AMARANTE, 14 E 15 DE ABRIL
10 março 2012
“HÁ MAR E MAR...
... Há ir e voltar”: velho ditado inscrito, a branco já muito delido, na velha bóia de cortiça do I.S.N., forrada a tela debruada, a que muitas repinturas de vermelho dão uma patine de cuidado marinheiro. Completa a imagem uma corda branca, presa a espaços regulares, que circunda a bóia pelo seu perímetro exterior. Está toda empertigada, numa peanha, com outros acessórios de salvamento, um cartaz explicativo da forma de socorrer um náufrago, desenhos que põem a boca e o corpo do socorrista ao serviço do outro corpo, o que precisa urgentemente de salvação: tudo isso forma um conjunto, há um perímetro protegido, também por cordas. Ninguém se atreve a violar aquele espaço, só ele livre, precária clareira em toda a extensão da areia, pelo meio do dia, com o sol a pique, a morder os ombros, as ancas, os tornozelos.
Vem o pôr-do-sol e a noite, a praia esvazia-se, mas a bóia continua sempre ali, vigilante, avisando os incautos: cuidado com o mar, ele é traiçoeiro, tem duas palavras diferentes, tudo parece fácil para ir, e tudo se pode complicar na volta.
É quando julgo ter assumido enfim que tudo é, em última instância, espantosamente irrelevante, que esta imagem, resgatada da infância, este aviso, repetido aos meus ouvidos até à exaustão, me chega de novo, por outras vias e inesperadas origens. Apercebo-me da múltipla trivialidade, rugosidade incómoda que alimenta o quotidiano, como recurso inesgotável de comunicação.
Compreendo também que todo o trivial se resolve numa certa forma de traição: nada é apenas o que pode parecer, o mar calmo, o sol de Março, o entendimento entre nós.
“Há mar e mar...” muitas vezes, avançamos numa relação como um nadador inseguro que se aventura no mar sem avaliar bem a distância que terá de percorrer para voltar à praia.
Acontecem sempre muitas coisas, cujo valor depois se relativiza ou a que ficamos presos pela memória, como farrapos precariamente presos a arbustos espinhosos que o vendaval arrasta pela paisagem desolada.
Náufragos da afectividade, num mar de ambiguidades e mal entendidos, quando nos julgamos a salvo, resgatados pela consciência da omnipresente irrelevância, percebemos enfim que voltámos, sim, mas não à mesma praia.
08 março 2012
O Remexido n’A Brasileira de Prazins
“Em 1836 apareceu no Algarve a poderosa guerrilha de José Joaquim de Sousa Reis, o Remexido, em São Bartolomeu de Messines.”…
“José Joaquim, o Remexido, era um bem figurado homem de trinta e oito anos. Nascera em Estômbar, estudara para clérigo no seminário de Faro, e distinguira-se em perspicácia e subtileza na percepção das teologias. O amor inutilizou-lhe o talento aplicado a um pacífico e humaníssimo destino. Viu uma esbelta moça de São Bartolomeu de Messines quando aí foi pregar um sermão, sendo minorista. As serenas visões do levita deslumbrou-lhas a formosa algarvia. Não hesitou entre o amor da humanidade e o culto egoísta da família. Casou, e de homem estudioso e contemplativo, volveu-se lavrador, lidou rudemente nas searas, e redobrou de esforços à proporção que os filhos lhe multiplicavam o amor e os cuidados.
Insensivelmente compenetrou-se da paixão política. Nesta província, onde em 1808 estalou o primeiro grito contra o domínio francês, a liberdade proclamada em 1820 abriu um abismo entre duas facções que por espaço de dezoito anos se despedaçaram. José Joaquim de Sousa Reis alistou-se entre a clerezia de quem recebera as boas e as más ideias, e manifestou-se em 1823 um ardente sectário das más, perseguindo os afeiçoados à revolução do Porto. Em 1826 emigrou para Espanha, e voltando em 1828 extremou-se entre os aclamadores do rei absoluto. Daí em diante, receoso das retaliações, não teve mais uma hora de remansoso contentamento nem abriu mão da espada tão afoita quanto cruel.”
Após a Convenção de Évora-Monte, em 1834, foi perseguido e a sua família ameaçada pelos vitoriosos liberais, o que o levou a desencadear uma luta de guerrilha que culminou com a sua prisão, julgamento e fuzilamento em 1838.
Diversos crimes foram cometidos em seu nome e rapidamente se tornou uma lenda de temor que se espalhou até ao Alentejo. Contudo, estudos recentes parecem ilibá-lo de tais crimes e acções ignominiosas