17 fevereiro 2025

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL DOS LEGENTES (6)

 “O Leitor” é um conto de Teolinda Gersão coligido em Histórias de Ver e Andar. Li-o há uns dez anos e tem uma história que passo a resumir.

É a história de um fã – como se diz hoje em linguagem informal – de romances policiais. Não lia, devorava os romances, desejoso de chegar ao fim e conhecer o verdadeiro assassino da pobre vítima entre as hipóteses avançadas ao longo do livro.

Tendo como profissão a de maquinista do metropolitano e sendo tão grande a sua paixão pela leitura, começou a levar os livros para o comboio, lendo-os sobre o tablier enquanto efectuava as manobras de condução.

Claro que a coisa deu mau resultado: não houve propriamente um acidente grave, mas falhas na informação que pelos altifalantes deveria ser prestada aos passageiros sobre a passagem pelas diversas estações da linha. Um passageiro percebeu a razão da sua distração, fez queixa, e o bom do leitor-maquinista foi despedido.  

Vem então o mais curioso: absorvido pela necessidade de procurar emprego, passou apenas a ler anúncios de jornal, não sendo capaz de voltar aos seus amados romances.

Moral da história: para ler, temos de ter serenidade, temos de nos sentir bem connosco e com os que nos rodeiam. A leitura não é uma terapia (para ajuda procurem os psicólogos ou os bruxos), antes um exercício de pessoas saudáveis que estão bem com a vida.

Pode haver quem pense o contrário. Há até mediadores de grupos de leitura que ufanamente se autoproclamam biblioterapeutas. Palavra estranha, não é? Mas eles lá saberão porque o dizem.  

1 comentário:

Custódia C. disse...

Pode dar uma boa discussão: a leitura, pode ou não ser terapêutica?