21 fevereiro 2025

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL DOS LEGENTES (8)

Para certas pessoas, a leitura é uma simples fonte de prazer, enquanto para outras é também formação, autodidactismo. Já os antigos diziam que o fim da leitura seria o de deleitar e instruir. Ora aí está, isso mesmo.

Assim começa esta oitava publicação da “Educação Sentimental dos Legentes”, mas descansai, leitores, que a coisa não passará do número dez. Será um decálogo sem moral nem ética, dez mandamentos de quem não sabe mandar e, graças a Deus, é pouco mais do que um pau mandado.

Hoje falar-se-á de autodidactas em bibliotecas. Conhecemos alguns: o jovem Saramago da Biblioteca Galveias, lendo Ricardo Reis convencido de que era um poeta de carne e osso; ou o Ferreira de Castro, regressado da selva, estudando com afinco na biblioteca pública de Belém do Pará. Cada caso é um caso.

Curioso é o daquele autodidacta da biblioteca pública de Bouville (cidade imaginária) de que nos fala Sartre em A Náusea. Já não me lembro se o homem tinha nome, tão-pouco o que fazia para além de ler. Antoine Roquentin (o historiador protagonista do romance) conheceu-o quando na biblioteca fazia as suas investigações sobre uma qualquer personalidade de séculos passados.

Foi falando com ele e apercebeu-se dos propósitos que o animavam. Fazer a sua formação, que já se iniciara há sete anos, lendo todos os livros da biblioteca. O método era seguir as leituras por ordem alfabética dos nomes dos autores. Começara na letra A e, imagine-se, já ia na L, estudando os mais variados assuntos, da História e da Filosofia à Zoologia e à Física Quântica.

Poderia ter seguido de Z para A que dava o mesmo efeito, mas isso não interessa e aqui fica o caso para vossa meditação.

Avisai-me, ó leitores, se souberdes de algum autodidacta na nossa biblioteca. Teria grande prazer em o conhecer, até de o convidar para se agregar à nossa Comunidade.  


Sem comentários: