Para certas pessoas, a
leitura é uma simples fonte de prazer, enquanto para outras é também formação,
autodidactismo. Já os antigos diziam que o fim da leitura seria o de deleitar e instruir. Ora aí está, isso
mesmo.
Assim começa esta
oitava publicação da “Educação Sentimental dos Legentes”, mas descansai,
leitores, que a coisa não passará do número dez. Será um decálogo sem moral nem
ética, dez mandamentos de quem não sabe mandar e, graças a Deus, é pouco mais
do que um pau mandado.
Hoje falar-se-á de autodidactas
em bibliotecas. Conhecemos alguns: o jovem Saramago da Biblioteca Galveias,
lendo Ricardo Reis convencido de que era um poeta de carne e osso; ou o
Ferreira de Castro, regressado da selva, estudando com afinco na biblioteca
pública de Belém do Pará. Cada caso é um caso.
Curioso é o daquele
autodidacta da biblioteca pública de Bouville (cidade imaginária) de que nos
fala Sartre em A Náusea. Já não me
lembro se o homem tinha nome, tão-pouco o que fazia para além de ler. Antoine
Roquentin (o historiador protagonista do romance) conheceu-o quando na
biblioteca fazia as suas investigações sobre uma qualquer personalidade de séculos passados.
Foi falando com ele e
apercebeu-se dos propósitos que o animavam. Fazer a sua formação, que já se
iniciara há sete anos, lendo todos os livros da biblioteca. O método era seguir
as leituras por ordem alfabética dos nomes dos autores. Começara na letra A e, imagine-se,
já ia na L, estudando os mais variados assuntos, da História e da Filosofia à
Zoologia e à Física Quântica.
Poderia ter seguido de
Z para A que dava o mesmo efeito, mas isso não interessa e aqui fica o caso para
vossa meditação.
Avisai-me, ó leitores,
se souberdes de algum autodidacta na nossa biblioteca. Teria grande prazer em
o conhecer, até de o convidar para se agregar à nossa Comunidade.
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