E aqui está o Che: corresponde?
Blogue da Comunidade de Leitores da Biblioteca de S. Domingos de Rana - Cascais - Portugal
12 outubro 2015
DEMÓCRITO Vs HERACLITO?
Ora aí estão, a par, as duas faces da mesma moeda humana: umas vezes mais um que outro, quem se livra destes extremos, sempre em tensão? Por alguma razão foi o pintor levado a não pintar um sem o outro e eles lá estão, ao nosso dispor e disposição. Resta a dúvida quanto ao modelo do Demócrito...
09 outubro 2015
SVETLANA, MEU AMOR
Cansadas de apostarem em cavalos errados, as casas de apostas finalmente acertaram. O Murakami vai ter de continuar a correr sozinho - os ténis quase rotos. Algum dia será, nem que seja na Eternidade... Por agora ficamos com uma mulher que conhece o estertor do "homem soviético". O que isso seja, não sei, não li o livro, mas vou procurar informar-me.
Entretanto, estou a ficar farto disto, vou-me embora pra Pasárgada.
Entretanto, estou a ficar farto disto, vou-me embora pra Pasárgada.
07 outubro 2015
JÚLIO DINIS e ALEXANDRE HERCULANO
«(...) Este romance das "Pupilas" é a realização dum pensamento filho das impressões que, desde a idade de doze anos, tenho recebido das sucessivas leituras do "Pároco da Aldeia". O meu reitor não fez mais do que seguir, a passo incerto, as fundas pisadas que o inimitável tipo criado por V. Exa deixou na sua passagem.»
--- Da carta de Júlio Dinis para Alexandre Herculano - Porto, 7 de Abril de 1867.
06 outubro 2015
ESTA É IMPORTADA DO FEICEBUQUE - ORA AGUENTEM-SE LÁ, BLOGUEIROS!
HÁ TRÊS ANOS, apresentando na Gulbenkian a antologia organizada por CLARA ROCHA com o título A CANETA QUE ESCREVE E A QUE
PRESCREVE – DOENÇA E MEDICINA NA LITERATURA PORTUGESA, disse João Lobo Antunes
que os alunos de uma sua unidade lectiva na Faculdade de Medicina de Lisboa –
qualquer coisa como "MEDICINA E LITERATURA" – desconheciam quase em absoluto a
personagem João Semana de Júlio Dinis. Lembrei-me disto – que ouvi directamente
do professor (não me foi contado) – , no momento em que re-re-re-releio As
Pupilas do Senhor Reitor, romance parcialmente escrito em Ovar, numa casa
rural que hoje está dentro da cidade, onde o autor presenciou os amores ingénuos dos camponeses, as
desfolhadas, a vida de aldeia. É romance fraquinho, têm-me dito. A opinião de
Eça não era diferente, se avaliarmos pelo que deixou escrito na morte do grande
escritor: “Viveu de leve, escreveu de leve, morreu de leve”. Que posso fazer?
Deixar aqui algumas imagens de mestre Roque Gameiro (1864-1935) que ilustraram
edições de As Pupilas com a certeza de que tão belas aguarelas não podem provir de um romance
vulgar.
JÚLIO DINIS e OVAR
Estive no passado mês de Setembro em OVAR no festival literário que lá decorreu. Foi a oportunidade para conhecer a casa onde JÚLIO DINIS viveu durante algum tempo e onde escreveu "As Pupilas do Senhor Reitor". Aqui deixo as fotografias.
05 outubro 2015
Será isto?
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"As Pupilas do Senhor Reitor",
Júlio Dinis
"As Pupilas do Senhor Reitor" de Júlio Dinis, 30 Outubro, 20h30
A abrir:
"José das Dornas era um lavrador abastado, sadio, e de uma tão feliz disposição de génio, que tudo levava a rir; mas desse rir natural, sincero, e despreocupado que lhe fazia bem, e não do rir dos Demócritos de todos os tempos - rir céptico, forçado, desconsolador, que é mil vezes pior do que o chorar..."
in "As Pupila do Senhor Reitor" de Júlio Dinis, I Capítulo
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"As Pupilas do Senhor Reitor",
Júlio Dinis,
Livro do mês
18 setembro 2015
Moonlight
..."Depois, a lua surgiu por detrás dos montes. Era uma lua cheia, tão redonda e amarela como uma pedra incandescente. Não a larguei dos olhos enquanto ela se elevava no céu nocturno, não desviei o meu olhar enquanto ela não encontrou o seu lugar na escuridão."
08 setembro 2015
AINDA AS ONDAS E O NOSSO POLEIRO
O romance, «As Ondas» suscitou esta «instalação» da nossa amiga Bia, inspirada num trecho referente ao «nosso poleiro», p. 99 da sua edição. Entre o vai e vem das ondas e ritmos da vida, o nosso ponto de encontro, firmado no afecto e amizade de um enorme coração.
A LUA E SUAS HISTÓRIAS
Primeiro capítulo lido, e tudo parece orbitar na Lua, «A radiante Diana, (...)reflexo de tudo o que é escuro dentro de nós.», ponto de referência de um personagem «perdido», até onde a minha leitura alcançou. Nesse final dos anos 60, o Homem chega à Lua:
«Por coincidência, levei os últimos livros ao Chandler no mesmo dia em que os astronautas chegaram à Lua [20 de Julho de 1969]. (...)Nesse dia fazia imenso calor e não me pareceu haver mal nenhum em gastar vinte cêntimos em duas cervejas.Sentei-me num banco livre ao balcão, junto a mais três ou quatro clientes habituais(...). Uma televisão a cores de ecrã enorme estava ligada e fazia brilhar as garrafas de rye e de bourbon quando estas reflectiam as imagens. Foi só por isso que testemunhei o acontecimento. Que vi as duas figuras acolchoadas a ensaiar os primeiros passos naquele mundo sem ar, saltando por cima da paisagem que pareciam brinquedos, guiar um carrinho de golfe através da poeira, espetar uma bandeira no olho da que antes fora a deusa do amor e da loucura. A radiante Diana (...). E depois falou o presidente [Richard Nixon ]. Com voz solene e sem expressão, declarou que se tratava do maior acontecimento desde que o homem era Homem. Os velhotes no bar fartaram-se de rir quando ele disse isso (...). Mas (...) havia uma coisa que ninguém podia refutar :desde o dia em que fora expulso do Paraíso, nunca Adão andara tão longe de casa.»
in, Paul Auster, O Palácio da Lua, Lisboa, editorial Presença, p.34
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Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin |
Velho sonho de descobrir o espaço, teve, contudo, os seus detractores, ou melhor os incrédulos, pouco confiantes nas novas tecnologias, tidas como facilmente manejadas pelos poderes: uma amiga dos meus pais, assistiu a tal evento, numa tasca alentejana, onde o proprietário fez o jeito de receber duas jovens lisboetas em arrojada viagem, talvez por ser um homem moderno no Portugal profundo de 1969 e o seu estabelecimento possuir, já, televisão, certamente a branco-e-preto. A restante plateia, de velhos senhores, discutiam entre eles a verosimilhança das imagens, chegando à sábia conclusão de que se tratava de um truque televisivo e um homem sensato não podia acreditar no que era exibido no pequeno ecrã.
Há outras versões destas descrenças, como a testemunhada pelo viajante/escritor, Paul Theroux, num comboio do Turcomenistão, por volta de 2006:
« O comboio partiu lentamente da estação de Asgabate e daí a minutos estávamos no deserto. O velho estava a monologar com o estudante.
- Diz[o velho] que há uns anos um astronauta foi à Lua- disse o estudante- era dos Estados Unidos. Quando chegou à Lua, ouviu um barulho estranho. Era um azan- a chamada para a oração, normalmente cantada por um muezim de uma mesquita.- O astronauta gravou-o. Quando voltou à Terra, os cientistas dos Estados Unidos analisaram-no e chegaram a pensar que era a voz do Profeta Maomé.
- Na Lua?
- Sim, na Lua.(...)
- Mais, diz que por causa disso o astronauta tornou-se muçulmano e começou a rezar cinco vezes por dia.
O velho estava de frente para mim, como que a desafiar-me a troçar da história.
- Nunca ouvi essa história- disse eu.
-Diz que acredita nela.(...)
Um erudito árabe disse-me uma vez que era um mito urbano persistente no Médio Oriente que Neil Armstrong, (...),se convertera ao Islão.»
in, Paul Theroux, Comboio -Fantasma para o Oriente, Lisboa, Quetzal, 2013, pp. 131/132

Que a Lua sempre foi matéria fascinante, atestam as inventivas narrativas de viagens, em forma de letra ou imagem, concebidas muito antes de Aldrin e Armstrong terem pisado o satélite resplandecente, ao vivo e a cores. Algumas são referidas por P. Auster ( pretexto de exibição de erudição desastrada do personagem,dividido entre a arrogância da exibição intelectual e uma imensa fomeca).
A cada um a sua Lua. Eu, prefiro-a banhada em prata nos céus de Verão.
Obras que relatam viagens à Lua:
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Luciano de Samostata- História Verdadeira, séc. II DC |
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1516 |
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1638 |
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1657 |

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1865 |


01 setembro 2015
"Palácio da Lua" de Paul Auster, 25 Setembro - 20h30
"Foi no Verão em que o Homem caminhou pela primeira vez na Lua.
Eu era muito jovem nessa altura, mas não acreditava que viesse a haver um futuro. Queria viver perigosamente, pegar em mim e levar-me tão longe quanto possível e, depois, quando lá chegasse, logo veria o que me aconteceria."
In "Palácio da Lua" de Paul Auster
31 agosto 2015
Palavras para que vos quero
Com o sentido de dinamizar o blog, criámos em tempos a série "Palavras para que vos quero" com o objectivo de publicar pequenos textos dos membros da nossa Comunidade. Durante algum tempo foram sendo publicados alguns com esta etiqueta, mas depois a ideia foi caindo aos poucos. Assim lembrei-me de lançar o desafio: vamos ressuscitar o tema? Os nossos leitores que tenham textos que gostassem de ver por aqui, podem enviar para mim que eu publico.
Edvard Munch - Tavern in St. Cloud, 1890
O
despertar
Acordou
lentamente com a cabeça a querer explodir. Demorou a perceber onde estava.
Tentou abrir os olhos e o sol que entrava pela janela atingiu-o violentamente
como se de um raio se tratasse. A rigidez por baixo do seu corpo fê-lo perceber
que não estava na cama. Dolorosamente abriu os olhos e viu que estava no chão
da sala, com uma das pernas apoiada no sofá. Apesar do silêncio em casa ser
absoluto, sentiu que devia ser tarde pelos barulhos exteriores. Ouvia-se o
piano da vizinha do lado e gritos de crianças a brincar no jardim da frente.
Levantou-se cambaleando ainda com os efeitos do álcool a fazer-se sentir. Ao
passar na entrada viu que a cozinha estava vazia e dirigiu-se para os quartos,
percebendo rapidamente que estava sozinho. Quando espreitou o quarto do filho
pareceu-lhe que alguma coisa estava errada, tendo a confirmação quando entrou
no seu quarto. Alguns dos objectos tinham desaparecido de cima da cómoda, as
portas do roupeiro estavam abertas e faltavam roupas. As roupas da sua mulher.
Sentiu o estômago a contrair-se. Correu de novo para o quarto do filho, agora
totalmente desperto. A maior parte dos brinquedos tinham desaparecido, os
armários praticamente vazios, tudo com o aspecto de ter sido esvaziado à
pressa. Correu à casa de banho e também ali faltavam escovas, boiões e outros
objectos pessoais. No escritório, a secretária da sua mulher parecia ter sido
varrida pelo vento, faltava o portátil e havia papeis, lápis e clips
espalhados, como se ela tivesse feito uma recolha rápida das coisas mais
básicas, numa imensa pressa de partir. Sentiu um vómito súbito e fez um esforço
para o controlar. Voltou à sala e só então percebeu a desordem na mesma. Duas
cadeiras estavam caídas, havia revistas pelo chão e a jarra com flores
habitualmente em cima da mesa grande tinha caído com a água a manchar a
superfície. Fez um esforço para se lembrar do que tinha acontecido na véspera,
mas o cérebro ainda estava cheio de nuvens pesadas. Foi à cozinha e o caos era
total, havia louça partida, bancos caídos, comida espalhada pelo chão e ….
sangue, manchas de sangue na porta do frigorífico. Sentiu-se gelar. Cambaleou e
teve que se apoiar no balcão para não cair. A imagem da mulher a ser
violentamente atirada contra o frigorífico fez-se nítida na sua mente. Lembrou-se
do grito e do seu olhar de infinita surpresa antes de cair desamparada no chão.
Recordou-se de a ter pontapeado numa fúria incontrolável e quando ela ficou
quieta e enrolada sobre si mesma dirigiu-se à sala e simplesmente apagou. E
agora estava sozinho. O que tantas vezes lhe passara pela cabeça acontecera. O
álcool tinha-o levado longe demais e fizera-o perder o controlo. Olhou para
cima do frigorífico e viu a fotografia do filho, a rir numa gargalhada feliz, de olhos grandes e expressivos. Agarrou a moldura, apertando-a contra o peito
e desmoronou, caindo por terra. As lágrimas brotaram num soluço incontrolável,
percebendo que tinha perdido o que de melhor a vida lhe dera. A raiva contra si
próprio inundou-o fazendo-o bater a cabeça repetidas vezes no chão. Ao mesmo
tempo começou a sentir uma nova força a crescer dentro de si. Ia lutar contra o
maldito vício, ia recuperar a sua família e o seu trabalho. Poderia levar
meses, anos, mas iria conseguir. E começou lentamente a levantar-se ...
Custódia (Abril
2009)
10 agosto 2015
"As Horas" de Michael Cunningham, 28 de Agosto, 20h30
"Ainda falta comprar flores. Clarissa finge-se exasperada (embora goste de fazer recados deste género), deixa Sally a limpar a casa de banho e sai apressada, prometendo voltar dentro de meia hora.
Isto passa-se na cidade de Nova Iorque. No fim do século XX.
A porta do vestíbulo abre-se para uma manhã de Junho tão bonita e limpa que Clarissa se detém no limiar como se deteria à beira de uma piscina, a admirar a água cor de turquesa beijando os azulejos, as redes líquidas de sol oscilando no fundo azul ..."
in "As Horas" de Michael Cunningham, capítulo "Mrs. Dalloway"
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"As Horas",
Livro do mês,
Michael Cunningham
05 agosto 2015
«AS ONDAS» DE VIRGÍNIA WOOLF-FLUXO DE CONSCIÊNCIA
«O romance “As Ondas” abandona a estrutura tradicional e a narrativa do romance Inglês que vigorava desde Henry Fielding (XVIII). Em vez de narrar de fora as acções dos personagens, Virginia Woolf entra nas suas mentes e relata os seus pensamentos e percepções, enquanto eles ocorrem.Virginia Woolf forma os personagens de dentro para fora, e uma das preocupações do romance é o modo como as personalidades e sensibilidades são formadas pela relação com os outros. Os seis personagens estão interligados de tal forma que os tempos vividos por eles são os mesmos e a memória é deflagrada por algo que presenciam conjuntamente, ou por uma situação semelhante pela qual todos estejam a viver, não havendo por isso personagem principal. Como exemplo, aponta-se o momento em que vão à escola pela primeira vez, e cada um dos personagens apresenta a sua visão da situação, ao descrever e analisar o que estão a viver. As informações sobre as situações são dadas aos poucos, subjectivamente, de acordo com as percepções e os sentimentos individuais.
Ao invés de resumir para nós o que os personagens vêem , pensam e fazem , relatando a partir do exterior , ou arrumar os pensamentos dos personagens em padronizadas frases claras , Woolf tenta dar ao leitor a impressão de como é estar dentro da cabeça dos personagens. Em cada narrador/personagem , temos uma combinação de pensamentos, sensações , memórias , descrições , acções e falas, e devemos separar por nós mesmos o que é puramente "interno" e o que é uma combinação de "interno" e "externo". O monólogo interior, que internaliza o conceito de fluxo de consciência, apresenta a sequência de pensamentos de um personagem em actividade sempre contínua e marcada por influências externas e internas, como sentimentos e sensações presentes e passadas, ou a expressão racional de uma ideia. Essa técnica narrativa, ao explorar o movimento da consciência e capturar o pensamento no momento mesmo de sua concepção, traz inúmeras possibilidades associativas e uma imagem mais realista da psicologia.
O conceito de fluxo de consciência (stream of consciousness) , foi desenvolvido por William James em “Princípios de Psicologia” (1890), em que explica a consciência como um fluxo contínuo ao estabelecer relações entre eventos presentes e passados, num movimento ininterrupto de sentimentos, impressões, percepções e pensamentos. Associado à narrativa woolfiana, esse conceito transforma-se em técnica narrativa.
Percebe-se, então, como toda a estrutura do romance está baseada no movimento das ondas, que podem representar, também, a própria técnica narrativa do fluxo de consciência, ou seja, o próprio movimento do pensamento das personagens, num ir e vir incessante e infinito.»
Por Davide Freitas, 30 de Julho de 2015
03 agosto 2015
Virginia Woolf's Suicide letter to Leonard Woolf As Horas, 2002
Entrando em Agosto, fazendo a ligação entre o livro do mês passado e o deste mês de veraneio, aqui fica um excerto do filme (a carta e o suicídio de Virgínia Woolf) «As Horas» de 2002, realizado por Stephen Daldry.O mesmo que conferiu o Óscar de melhor actriz a uma irreconhecível Nicole Kidman, adaptação do livro com o mesmo título de Michael Cunningham, vencedor do Prémio Pulitzer de 1999. Diálogo aberto entre obras e o irresistível apelo da adaptação cinematográfica (intertextualidades, Manuel?). Pesos muito pesados para este Verão, mas que prometem.
22 julho 2015
A última carta a Leonard
Leonard e Virgínia
"Querido, tenho certeza de que estou enlouquecendo de novo. Sinto que não podemos passar por outra daquelas terríveis fases. E desta vez não ficarei curada. Começo a ouvir vozes, e não posso me concentrar. Assim, estou fazendo o que me parece melhor. Você me deu a maior felicidade possível. Não creio que duas pessoas pudessem ser mais felizes até chegar esta doença terrível. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida e que sem mim você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Está vendo, nem consigo mais escrever adequadamente.
Não consigo ler. O que quero dizer é que devo a você toda a felicidade da minha vida. Você foi absolutamente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer isso — e todo mundo sabe. Se alguém pudesse me salvar, teria sido você. Perdi tudo, menos a certeza da sua bondade. Não posso mais continuar estragando sua vida. Não creio que duas pessoas tenham sido mais felizes do que nós fomos."
Encontrei a carta nesta página. Vale a pena ler o ensaio de Euler de França Belém.
10 julho 2015
[Quarta, 16 de Setembro] [1931]
Ah, mas esta manhã sou como uma abelha na flor da hera - não consigo escrever de tanto prazer. O John diz [sobre As Ondas] : «Mas adorei, adorei de verdade, e impressionou-me profundamente, fiquei assombrado pelo que conseguiu fazer com um método inteiramente novo... Parece-me que só existe uma parede finíssima a separar a poesia de um romance como o seu. Você consegue aliar a velocidade da prosa à intensidade da poesia.»
09 julho 2015
IMPRESSÃO, SOL NASCENTE
CLAUDE MONET (1872), óleo sobre tela, 48 cm x 63 cm, Museu Marmottan
«Um disco de fogo ardeu no rebordo do horizonte e o mar à sua volta tornou-se um esplendor de ouro.» --- VIRGINIA WOOLF, As Ondas.
Começo a leitura, hoje, com um fio de impressionismo atravessado nos olhos.
21 junho 2015
LEITURA DO D. QUIXOTE EM ALMADA
Fotos: o livro, vista parcial do grupo, leitura pura e instalação com v de vitória
Fala do cónego para o cura no
capitulo XLVII: «Nunca vi um livro de cavalarias que faça um corpo de fábula
inteiro com todos os seus membros, de maneira que o meio se harmonize com o
princípio, e o fim com o princípio e o meio; mas compõe-nos com tantos membros
que mais parecem ter a intenção de formar uma quimera ou um monstro que formar
uma figura proporcionada.»
Compare-se esta passagem de “D.
Quixote” com Horácio, “Arte Poética”, 1-8: «Se um pintor quisesse juntar a uma
cabeça humana um pescoço de cavalo e a membros de animais de toda a ordem
aplicar plumas variegadas, de forma que terminasse em torpe e negro peixe a
mulher de bela face, conteríeis vós o riso, ó meus amigos, se a ver tal
espectáculo vos levassem? Pois crede-me, Pisões, em tudo a este quadro se
assemelharia o livro, cujas ideias vãs se concebessem quais sonhos de doente,
de tal modo que nem pés nem cabeça pudessem constituir uma só forma.»
18 junho 2015
ASSOBIO NA NOITE
Assobio na noite, o terceiro conto de O Belo Adormecido de Lídia Jorge, nossa leitura de junho. Referência, aparentemente desgarrada, a Caravaggio, a propósito, é certo, de estudos que o protagonista, Prof. Reinaldo Mateus (a gente pensa logo em Reynaldo dos Santos...), teria desenvolvido, sobretudo no seu quinto livro, cuja matéria versava sobre o famoso pintor lombardo.
E digo referência desgarrada, por me escapar o possível nexo que a escritora, de alguma forma críptica (pelo menos para mim), terá estabelecido com o desenrolar da história.
Assim, surgem, ao longo dos primeiros quatro parágrafos, três pontos que parecem importantes e dos quais se poderia esperar um papel estruturante da narrativa ou então, que eles se constituíssem como chaves de uma interpretação. Ora, a sensação final que colhi da leitura do conto foi a de um certo "desperdício", no sentido destas expetativas, legítimas ou não. É como se a autora nos deixasse pendurados nestas mesmas expetativas, optando por uma certa descontinuidade, de propósito ou não.
Esses pontos são os seguintes: (i) o sonho recorrente, no qual surge (ii) uma faca, que ele identifica como sendo a de Caravaggio, objeto mítico, no qual estaria gravada (iii) uma frase: Onde não há esperança, não há medo.
A partir de uma pesquisa mínima e de alguma reflexão percebe-se, em primeiro lugar, a riqueza argumentativa e bases de discussão contidas naqueles três pontos. Depois... fico à espera dos contributos de quem também não achar o assunto despiciente...
11 junho 2015
"O Belo Adormecido" de Lídia Jorge, 26 Junho - 20h30
No mês em que entramos no solstício de Verão, temos seis contos da Lídia Jorge para descobrir. O mais longo é o que dá o nome ao livro e conta a história de um encontro entre uma actriz já madura e um rapaz adolescente.
Avancemos então para mais uma aventura literária …
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