Relato [...]: 3ª Jornada
- Pois bem! - Suspirou Scrooge - lamento vir assim interferir na vossa noite de Natal, mas a verdade é que depois de muito ter reclamado junto de C. Dickens - já explico porquê -, soube que ele tinha enfim decidido convocar um Espírito mais conciliador e racional, o Espírito Poético, precisamente aquele que hoje ficou de aparecer na vossa sessão, assim que se dispuserem a recebê-lo, conforme me constou no cibercafé do Espaço Sideral.
- Sim, ouvimos até dizer que ele se predispunha a rescrever a sua história, disse Miss Carlile, a filha do casal, que entretanto já se tinha recomposto do espanto, e se sentia, diga-se em abono da verdade, um tanto atrapalhada, pois ainda não tinha acabado de ler o conto.
- Felizmente, C. Dickens criou-me sincero e frontal, e estas são qualidades que não cheguei a perder, apesar de tudo o que ele me fez passar e das atitudes radicais para que por fim me empurrou...
Aqui, já um tanto agastado, pois apreciava sobremaneira o autor, interrompeu-o o dono da casa:
- Mas, desculpe, tudo o que aconteceu depois das visitas dos Espíritos pareceu ser resultado exclusivo de decisões suas. Aliás, do que sei, por muitas gerações e actualmente, a sua mudança de atitude tem sido um manancial de lições de humanidade, de generosidade... E a inspiração...
- Ora aí está, a inspiração! - Scrooge não resistiu a interromper - e faz ideia do que eu, humilde prestamista de Londres até 1853, tenho sofrido, por causa dos protestos?
Entretanto, o poeta tinha emergido de debaixo da mesa e, mais à vontade, expressou a perplexidade estampada nas expressões dos presentes:
- Que protestos?
Quando o notável visitante se preparava para debitar as suas explicações, tocou a campainha da porta... Eram o casal Mc Charles, Merry-Jo, Etel Light e, logo a seguir, apareceu Airlet, muito afobada, porque se tinha perdido às voltas na Rotunda do Cemitério...
Passada uma primeira fase de natural estranheza em vista do inesperado conviva, o qual era conhecido de jingeira, quer dizer, do Cântico de Natal, todos se dispuseram ao reatar da história entretanto interrompida.
- Encurtanto então razões, como dizia, há mais de um século que sofro as afrontas dos injustos protestos do patronato, porque viram no meu gesto de generosidade compulsiva em relação ao vosso antepassado, meu amanuense, a origem de todas as cedências à classe operária: vejam-se os aumentos de salários, os bodos, os feriados, logo seguidos da semana-inglesa, do fim-de-semana, das férias pagas, enfim... uma torrente de regalias que a mesma classe dos trabalhadores nunca achava suficientes e, também para os sindicatos e associações de classe, nunca deixei de ser o mau da fita...
Scrooge estava a par dos problemas actuais, porque realmente lhe sobrava tempo para ver todos os canais de notícias do mundo; por pouco não estalava uma discussão brutal com Mr Cratchit, aficcionado do tema da política, a propósito da crise do Euro.
Foi então que Ebenezer Scrooge, até aí distraidíssimo com a conversa, reparou nas horas, se sobressaltou e, desculpando-se por ter de se ausentar sem participar na famosa sessão poética, explicou que não podia faltar à ceia de Natal na casa do seu sobrinho Fred.
Adiantou ainda que aquele tinha convidado, para a festa de Natal, um casal pobre que ele achava merecer ajuda... E Scrooge tremia só de pensar no montante da ajuda... Ainda por cima não os conhecia, pois vinham de outra estória... Tinha também um grande favor a pedir, antes de abalar...
- Sim, ouvimos até dizer que ele se predispunha a rescrever a sua história, disse Miss Carlile, a filha do casal, que entretanto já se tinha recomposto do espanto, e se sentia, diga-se em abono da verdade, um tanto atrapalhada, pois ainda não tinha acabado de ler o conto.
- Felizmente, C. Dickens criou-me sincero e frontal, e estas são qualidades que não cheguei a perder, apesar de tudo o que ele me fez passar e das atitudes radicais para que por fim me empurrou...
Aqui, já um tanto agastado, pois apreciava sobremaneira o autor, interrompeu-o o dono da casa:
- Mas, desculpe, tudo o que aconteceu depois das visitas dos Espíritos pareceu ser resultado exclusivo de decisões suas. Aliás, do que sei, por muitas gerações e actualmente, a sua mudança de atitude tem sido um manancial de lições de humanidade, de generosidade... E a inspiração...
- Ora aí está, a inspiração! - Scrooge não resistiu a interromper - e faz ideia do que eu, humilde prestamista de Londres até 1853, tenho sofrido, por causa dos protestos?
Entretanto, o poeta tinha emergido de debaixo da mesa e, mais à vontade, expressou a perplexidade estampada nas expressões dos presentes:
- Que protestos?
Quando o notável visitante se preparava para debitar as suas explicações, tocou a campainha da porta... Eram o casal Mc Charles, Merry-Jo, Etel Light e, logo a seguir, apareceu Airlet, muito afobada, porque se tinha perdido às voltas na Rotunda do Cemitério...
Passada uma primeira fase de natural estranheza em vista do inesperado conviva, o qual era conhecido de jingeira, quer dizer, do Cântico de Natal, todos se dispuseram ao reatar da história entretanto interrompida.
- Encurtanto então razões, como dizia, há mais de um século que sofro as afrontas dos injustos protestos do patronato, porque viram no meu gesto de generosidade compulsiva em relação ao vosso antepassado, meu amanuense, a origem de todas as cedências à classe operária: vejam-se os aumentos de salários, os bodos, os feriados, logo seguidos da semana-inglesa, do fim-de-semana, das férias pagas, enfim... uma torrente de regalias que a mesma classe dos trabalhadores nunca achava suficientes e, também para os sindicatos e associações de classe, nunca deixei de ser o mau da fita...
Scrooge estava a par dos problemas actuais, porque realmente lhe sobrava tempo para ver todos os canais de notícias do mundo; por pouco não estalava uma discussão brutal com Mr Cratchit, aficcionado do tema da política, a propósito da crise do Euro.
Foi então que Ebenezer Scrooge, até aí distraidíssimo com a conversa, reparou nas horas, se sobressaltou e, desculpando-se por ter de se ausentar sem participar na famosa sessão poética, explicou que não podia faltar à ceia de Natal na casa do seu sobrinho Fred.
Adiantou ainda que aquele tinha convidado, para a festa de Natal, um casal pobre que ele achava merecer ajuda... E Scrooge tremia só de pensar no montante da ajuda... Ainda por cima não os conhecia, pois vinham de outra estória... Tinha também um grande favor a pedir, antes de abalar...
(Tenham paciência, já não falta tudo)
2 comentários:
Mas o Scrooge vai-se embora? Então mas ele não queria conhecer o Espírito Poético? Já percebi, tendo em conta a entrada de mais ilustres personagens, ficou com medo do confronto! A rigor, a rigor será melhor deixá-lo ir. A verdade é que não acredito muito na sua redenção...
Então Mr. Scrooge foi ao faubourg Sete Castelos apenas para se justificar? Hum... não me cheira. Às tantas foi lá para assustar o poeta Laurence.
E vai convidar para a festa de Natal um casal pobre de outra story? Querem ver que é a Meg e o Richard?
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