Arriscar uma certa contra-mão,
infringir, de algum modo, os costumes, reinventando as noites, ditas especiais,
pode ser desconcertante e, por isso mesmo, compensador.
Já a ceia pouco natalícia, com o
bacalhau metamorfoseado em pataniscas, acompanhado do tomatado arroz, tinha
sido manducada a quatro bocas, mai-las repetidas sobremesas, quando surgiu a
primeira visita poética, a Etel, largando sorrateiramente a família, mas vindo
equipada com deliciosas filhoses, bondosamente surripiadas à natalícia mesa.
Cumprimentos, conversa, adivinhas e
prendinhas, bebe aqui, petisca acolá … E não há meio de chegar o resto do
pessoal! Onde vão as 23 horas combinadas… E os poemas a arrefecer…
Aquela gente evaporou-se, ou antes,
evaporou-se a ideia de nos reunirmos… meia noite, nada.
Vai-se embora a primeira participante,
sem participar, mas eis que aparece a inesperada, mas bem vinda Sandra, num
halo de fumo (não tão bem vindo).
Mais entretém, chegam, não chegam, vêm
não vêm, lá acabam por adregar à Costa dos Sete Castelos os três intrépidos em
falta! Meia noite e Meia!
Verdadeira quasi-vigília foi a sessão de
poemas. Esperem pelo fenómeno!
Em primeiro lugar, é justo que se
adiante, o nosso poeta de serviço (já pegou o dito) teve uma prestação de
aplaudir, com uma criteriosa seleção de poemas, nem todos fáceis de ler e apreender (e
vice-versa), mas o Espírito Poético, que nos visitou o ano passado, por
especial sortilégio de Mr Scrooge, fez também das suas este ano e, quando demos
por ele, tinha-se instalado, refasteladamente, entre nós!… Senão vejamos: num
primeiro momento, ora agora dizes tu, ora agora digo eu, foram os poemas
selecionados circulando, intercalando vozes femininas e vozes masculinas,
algumas vezes era necessário repetir, para saborear melhor (alguns não eram
para entender). Depois a coisa entrou numa roda que parecia livre, mas vendo
bem as coisas, era o Espírito Poético a conduzir, pela noite dentro, o pessoal
insone.
Sucederam-se então quase todos os poemas
enviados por alguns; e as escolhas pessoais iam surgindo: pontuaram João de Deus, Sophia de M. Breyner, Sebastião
da Gama, António Gedeão, a nossa amiga madeirense Lucília, entre outros; não
faltou um soneto de Camões; lembrámos Mário Dionísio e Garrett (Garretxi), a evocar
Santarém e a Joaninha. Mas quando demos
por isso, estava a Manuela a cantar a Barca Bela e dali até à Samaritana foi um
pequeno passo, acompanhada de perto pela emoção do nosso amigo e poeta. Ai
Fado!
Conclusão: Eram 2.30h, o dia 25 de
Dezembro a empurrar, com tarefas a cumprir e o Espírito a refilar, que queria
continuar com a poesia e o cantorio, pois então!
Depois de todos saírem, tentei apagar as
velas, mas só consegui depois de prometer ao Espírito que não vamos esperar UM
ANO para voltar a convocá-lo assim, com simplicidade, sem qualquer pretensão a
não ser esta: o pretexto da Beleza e da Palavra, que nos congregam para além de
todas as diferenças!
É verdade: obrigada a todos os
participantes, os presentes e os outros, apenas fisicamente ausentes. Acho que
a certa altura estávamos ali todos! Coisas do Espírito!
7 comentários:
Muito bonito e divertido, ao mesmo tempo, o teu texto.
É verdade:estávamos lá em espírito e unidos pelas palavras...
Maria Amélia
Tão bonito:)
Sinto como se tivesse lá estado.
Abençoado espírito ... que nunca se afaste!
"Queria neve no meu
natal de nostalgia. Queria
fechar os olhos
e ver por dentro neve. Queria-
-me em país nórdico, ao menos
na nostalgia possível."
--- Lembram-se ou não deste poema? Quem é o(a) autor(a)? (Saiba, Minha Cara Mrs.Cratchit, que eu também gosto de adivinhas.)
"exóticos são os outros/aonde nasce a poesia e os costumes//países brandos,neles habitam/planícies azuis e pássaros brancos.//lá os fiordes rompem o medo/com espadas de água.//entre lumes de memória/bate a alma do clan//jogos para matar a tempestada, na fria noite das tendas."
Adivinhem lá de quem é?
Não sou poetisa. Gosto de poesia, principalmente quando ela se canta. É isso que me deslumbra: cantar emoção, dando sentido às palavras. Acreditem: martelei a Barca Bela e a Samaritana. Não sei cantar.
Mas foi uma noite emotiva e sentida. Palavras gratas para os anfitriões.
Bem, isto está animado...
Manuel, arrisco...Natal a fingir de branco...e mais não digo...
Laurindo, não arrisco nada...moita :)
Para 2013, não se esqueçam de um pouco de poesia.
Digam lá quem são os autores? Ou vamos ficar em suspensão poética?
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