(no capítulo “O Encontro de Otávio”)
A todos os que não compreendendo, compreenderam
A noite
dobrava-se inquieta sobre o dorso dos pássaros,
o luar e a
sombra estalavam nos móveis do quarto
e as asas do
sonho trespassavam de verbos o poliedro
infinito das
sensações. Pensou: “Sou a onda leve
que não tem
outro campo senão o mar” – mas talvez
nem chegasse
a acreditar no que pensava… Cercava-a
uma auréola
de ínvia maldade, o poder desmedido
de se sentir
mulher e conhecer o futuro das palavras
muito antes
de elas se tornarem presente e passado.
Do amor, intuía
que era um lugar de onde se podia fugir
pela porta
dum livro ou duma grande ideia, enquanto
na cama, a
seu lado, frágil como uma folha ou um fruto,
o homem
soprava a lenta respiração do sono: insciente
e inerme, pronto
para morrer e ser esquecido.
JOSÉ RAFAEL
2 comentários:
Ora lá está... o poliedro infinito das sensações...
Paulinha, muito mais que isso...
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