22 dezembro 2012

Poema de NataL


De novo o alarde rútilo dos luzeiros de NataL, o colorido
das árvores, a música que alastra sobre o plasma
da noite. Estou do lado de cá da festa, na margem
do passeio, rente à sombra dos muros por onde crescem,
quando é tempo, os  braços meigos das buganvílias.
Vejo de fora, através das janelas, o recorte de lentas
figuras de cera. Transportam no bojo, como numa
mala, a inexequível persuasão da vida, o pano gasto
de alegrias reeditadas em cada época. Nada me move,
nada me comove. Peço-te, por isso, que não venhas
agora: para além do mais seria de mau gosto
e nada adiantaria ao nosso caso. Deixa que se extingam
as volutas da quadra e procura-me depois, pela manhã
de um tempo mais verdadeiro e mais humano.

JOSÉ RAFAEL

2 comentários:

Maria Amélia disse...

José Rafael,tão concienciosamente triste, mereces, não somente um comentário, mas muito mais, que no alongar do tempo se verá.

Joca disse...

Caro poeta, que tenha um bom Natal. E que um dia, pela manhã, descubra que afinal está num tempo verdadeiro e humano...o seu.