Nesta terra dura, a um
tempo mística e profana, se desenrolam as vidas dos personagens dos contos. Ao
folheá-los deparamos com os almocreves, que calcorreiam os íngremes caminhos,
com pastores que defrontam lobos, com emigrantes de torna viagem, com as moças
casadoiras, com as esposas ríspidas para com os seu homens, com as mães
sofredoras, os padres, duros como a paisagem, e até com o ladrão e o bêbedo. E
testemunhamos, em toda a sua humanidade, o role de sentimentos e situações que vivenciam:
os amores e desamores, festas e romarias, nascimentos e mortes, costumem
atávicos como as crenças tradicionais, onde a religião e o sagrado se mesclam
com o profano, as vinganças privadas, as inimizades e lealdades, as pequenas
graças e a desgraça. De facto os montanheses de Torga não são personagens
arcádicos e idealizados ou símbolos de oprimidos e explorados face a uma classe
ou a um poder. São simplesmente, com as suas virtudes, falhas, pecados,
redenções, tragédias, que o autor não julga. Antes se parece irmanar com eles,
com uma empatia pela fragilidade e volubilidade da condição humana e suas
histórias com desfechos entre o trágico e o irónico.
6 comentários:
É isso. Assim o disseste em M. do Corvo.
E a todos declaro:
--- Depois da inconsequente leitura de duas ou três páginas,na semana passada, vou hoje arrancar a sério com "A Tempestade".
A noite é minha amiga, há que aproveitar.
Paulinha, gosto da paixão que colocas nas palavras!
Venham mais durante "A Tempestade" ...
Ora A Tempestade já a li. Gosto da escrita, mas n/ do tema e das personagens. Li algures num blog que a principal personagem era a mais antipática que jamais tinha encontrado num livro.
Mas a literatura n/ se faz só de personagens pelas quais sentimos empatia. Por exemplo tb detestei o P. Amaro do Eça e o Bel Ami de Maupassant...n/ menos humanos por isso.
O P. Amaro é um querido. Vê lá o que a Paula Rego fez com ele. Do Bel Ami já não me lembro, mas esse livro, parece-me, era leitura de meninas. (lol) (re-lol) :) :)
Guilty ;)
Também li o Bel Ami e concordo ... aquele Georges ... por vezes até apetece dar-lhe uns estalos !
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