Inácio de Loyola (1491-1556) e Frederico II da Prússia (1712-1786)
Em pleno sexto capítulo de A Montanha Mágica, o leitor é
surpreendido com o aparecimento de uma nova personagem: Leo Naphta, jesuíta de
origem judia (tal e qual!), filósofo escolástico e grande defensor da essência
do espírito contra a carne em trânsito para a putrefacção. Embora fora do
sanatório, Leo Naphta encontrava-se em Davos Dorf a tratar-se da tuberculose,
deixando em suspenso a sua acção em prol da edificação da Cidade de Deus.
Hans Castorp, o protagonista, ensaia então
em pensamento uma comparação entre o militarismo prussiano (a que o seu primo
Joachim se entregara, abandonando o sanatório para poder seguir a carreira das
armas) e a pragmática dos inacianos. Passagem soberba de pensamento, daquelas
que só se encontram nas grandes obras. «Não seria o seminário Stella Matutina
[dos Jesuítas, onde Leo Naphta estudara] uma autêntica escola de cadetes em que
os pupilos eram distribuídos por "divisões" e exortados a cumprirem
honradamente uma disciplina ao mesmo tempo militar e espiritual, constituindo,
por isso, uma espécie de combinação de "colarinho engomado" com a "golilha
espanhola"? A ideia de honra e de distinção por mérito, tão importantes na
profissão de Joachim, não se evidenciavam também de modo notório, como pensava
Hans Castorp, na vocação que Naphta tivera que abandonar devido à doença?» E
mais adiante: «A doutrina e os preceitos estabelecidos pelo fundador e primeiro
general, o espanhol Loyola, levavam a crer que a sua acção era de maior alcance
e que prestavam serviços mais meritórios do que aquelas pessoas que agiam
apenas em função da razão lógica.» Considerando ainda: «É que combater o
inimigo, agere contra, atacar, portanto,
significava mais , e era mais honroso, do que defender-se apenas (resistere). Debilitar e desbaratar o
inimigo, dizia o regulamento do serviço de campanha, e mais uma vez o seu
autor, o espanhol Loyola, estava em perfeita sintonia com o capitan general de Joachim, Frederico da
Prússia, e a sua palavra de ordem: " Ao ataque! Ao ataque!", "Destroçar o
inimigo!", "Attaquez donc toujours!" Imagina-se o que destas reflexões poderia dizer o humanista e pacifista Ludovico Settembrini, personagem amiga do confronto intelectual, mesmo com os que, como no caso do jesuíta Naphta, lhe eram totalmente opostos em matéria de pensamento.
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