Ignorante que sou de
tantas e tão belas coisas, há semanas que venho fazendo a minha educação
sentimental de legente na cátedra camoniana de Jorge de Sena. Educação sentimental,
não sei se já se percebeu, porque a leitura é um sentimento. E Jorge de Sena,
engenheiro civil da Junta Autónoma das Estradas até se tornar no scholar de Assis, Araraquara, Madison e
Sta. Barbara (uma vida de professor pelo mundo em pedaços repartida) é também,
além disto tudo, poeta, contista e romancista, além de espírito de trato
difícil, agora só tangível em mediúnicos exercícios que não sei se há quem os
faça nem quero saber. Bem, estive no ano passado à beira do seu túmulo no Cemitério dos Prazeres, só isso, e
agradeço à companhia sentimental que me lá levou.
A imagem que acima se
apresenta é, como se vê, do Salmo 136 (137 segundo o número hebraico), súplicas
do povo exilado em Babilónia que Camões glosou nas redondilhas de Babel e Sião,
“Sôbolos rios que vão” ou Super Flumina
Babylonis (a que Jorge de Sena se referiu num conto de Novas Andanças do Demónio):
Sôbolos rios que vão / por Babilónia m´achei, / onde sentado
chorei / as lembranças de Sião / e quanto nela passei. / Ali o rio corrente /
de meus olhos foi manado, / e tudo bem comparado, / Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado. (…)
Um poetastro da nossa
praça atreveu-se a brincar com o assunto em poema dum seu livreco. Perdoai-lhe,
senhores, porque ele, se calhar, não sabia o que fazia.
E assim vamos andando. Muito tardia mas proveitosa (para mim) esta sessão de educação sentimental.
1 comentário:
Ou sabia?
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