13 fevereiro 2025

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL DOS LEGENTES (4)

Ignorante que sou de tantas e tão belas coisas, há semanas que venho fazendo a minha educação sentimental de legente na cátedra camoniana de Jorge de Sena. Educação sentimental, não sei se já se percebeu, porque a leitura é um sentimento. E Jorge de Sena, engenheiro civil da Junta Autónoma das Estradas até se tornar no scholar de Assis, Araraquara, Madison e Sta. Barbara (uma vida de professor pelo mundo em pedaços repartida) é também, além disto tudo, poeta, contista e romancista, além de espírito de trato difícil, agora só tangível em mediúnicos exercícios que não sei se há quem os faça nem quero saber. Bem, estive no ano passado à beira do seu túmulo no Cemitério dos Prazeres, só isso, e agradeço à companhia sentimental que me lá levou.

A imagem que acima se apresenta é, como se vê, do Salmo 136 (137 segundo o número hebraico), súplicas do povo exilado em Babilónia que Camões glosou nas redondilhas de Babel e Sião, “Sôbolos rios que vão” ou Super Flumina Babylonis (a que Jorge de Sena se referiu num conto de Novas Andanças do Demónio):

Sôbolos rios que vão / por Babilónia m´achei, / onde sentado chorei / as lembranças de Sião / e quanto nela passei. / Ali o rio corrente / de meus olhos foi manado, / e tudo bem comparado, / Babilónia ao mal presente, Sião ao tempo passado. (…)

Um poetastro da nossa praça atreveu-se a brincar com o assunto em poema dum seu livreco. Perdoai-lhe, senhores, porque ele, se calhar, não sabia o que fazia.

E assim vamos andando. Muito tardia mas proveitosa (para mim) esta sessão de educação sentimental.