15 fevereiro 2025

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL DOS LEGENTES (5)

                                       

«Talvez não haja outros dias da nossa infância que tenhamos vivido tão intensamente como esses que cremos ter deixado sem os viver, esses que passámos com um livro preferido».

Esta é a abertura do texto Sobre a Leitura, de Marcel Proust. O autor das memórias de Combray com os passeios pelos lados de Méséglise e Guermantes (Em Busca do Tempo Perdido), expressa-nos neste livrinho de 70 páginas aquilo que a leitura pode dar – de prazer e de renúncia a outros prazeres – a quem, permanecendo neste mundo, quer descobrir os mundos possíveis que se desdobram triunfantes – umas vezes belos, outras aterradores – perante os prodígios da imaginação.

O jovem leitor que associamos a Marcel Proust aproveitava todos os momentos que lhe eram permitidos para se isolar e se entregar à leitura, sendo por vezes admoestado por se fechar no seu quarto, evitando os passeios e os convívios familiares.

A leitura é normalmente um acto de isolamento, de solidão. Por isso admiro os que conseguem ler nos transportes públicos – frequentemente lotados e ruidosos –, demonstrando uma capacidade acrescida de permanecerem sozinhos no meio de tantos. Estes serão talvez uns superleitores adaptados à velocidade e escassez de tempo dos nossos dias. Honra lhes seja feita, bem os conheço!

1 comentário:

Custódia C. disse...

Já fui leitora de ler em qualquer ambiente, independentemente do ruído ou das multidões. Hoje preciso de lugares mais recatados :)