Foi redigido tendo
como referência a pintura Le Philosophe
lisant (1734), de Jean-Baptiste-Siméon Chardin (1699-1779) e é um discurso
sobre a importância e a nobreza do acto de leitura.
Tudo o que a pintura
nos mostra dá conta disso: o homem que lê vestido tal como se vai para uma
cerimónia; o silêncio que se imagina em torno dele, como se estivesse retirado
do mundo, entregue ao prazer supremo da leitura; a ampulheta e a pena sobre a
mesa com significativas conotações de ordem prática e simbólica.
A ampulheta, medidora
do tempo que é escasso para a leitura mas longo para a existência do livro e das
suas personagens. Diz-nos Steiner que «a
vida do leitor mede-se em horas e a do livro em milénios». E também que Flaubert
teria falado na hora da morte sobre o paradoxo de estar ele a morrer enquanto a
“prostituta” Emma Bovary, criatura sua surgida em simples folhas de papel,
continuaria a viver.
Depois a pena, hoje a
caneta ou o lápis com que o leitor toma as notas da sua leitura. Toda a boa leitura
supõe sublinhados, notas à margem, apontamentos em folhas de papel. «Ler bem é
estabelecer uma relação de reciprocidade com o livro que está sendo lido, é
embarcar em uma troca total», diz o autor do ensaio.
Mas afinal, caros
legentes, todos vós procedeis mais ou menos com estes princípios. Claro que há
as adaptações aos tempos modernos. Não vos imagino a vestir os melhores fatos
quando vos pondes diante dos contos de Flannery O´Connor ou dos romances de
Mishima.
E, por favor, nada de
riscar ou anotar as páginas dos livros que haveis requisitado na biblioteca.
Nem a lápis, que as borrachas são cada vez de pior qualidade e torna-se muito
difícil de apagar.
1 comentário:
Não deve haver um livro meu onde não haja algum rabisco ou sublinhado :)
Enviar um comentário