Depois do
filme, ontem, no CCB, duas passagens do livro:
Maio
de 1860
Nunc et in
hora mortis nostrae. Amen. A recitação
quotidiana do rosário terminara. Durante meia hora, a voz calma do Príncipe
havia recordado os mistérios gloriosos e dolorosos; durante meia hora, outras
vozes entremeadas haviam tecido um sussurro ondulante em que sobressaíam as
flores de oiro de certas palavras insólitas: amor, virgindade, morte.
Novembro
de 1862
Duma viela transversal, o Príncipe entreviu
a parte ocidental do céu, ao cimo do mar. Lá estava Vénus, envolta no seu
turbante de vapores outonais. Essa era sempre fiel, esperava sempre por ele nas
suas saídas matutinas em Donnafugata, antes das caçadas, agora depois do baile.
D. Fabrício suspirou. Quando se decidiria
ela a marcar-lhe um encontro menos efémero, longe das imundícies e do sangue,
na própria região das certezas perenes?
- Tomasi di
Lampedusa, O Leopardo, tradução de
Rui Cabeçadas, Livros Unibolso. -
3 comentários:
Gostei tanto, que ainda estou sem palavras.
Sublime!
De um lado, o leopardo, o leão...do outro, a hiena, o chacal...assim é a vida. Grande filme e que lavagem aos olhos: Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale...
Por aqui mas ausente noutro planeta por alguns dias, volto à fala para dizer que, se existem noites , ou dias, ou horas mágicas, isso aconteceu-me desta vez, culminando no filme e na sessão de insomnia que se lhe seguiu. Ah, é verdade! Também gostei das sardinhas! E obrigada à Custódia por se ter lembrado das atrasadas.
Mª Amélia
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