09 julho 2012

Do amor e dos seus demónios

“Fedra”, Acto 2 Cena 5, por Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson (1824)
 
Fala Fedra:
 
"Cruel! Ah! Tu bem me entendeste.
Falei bastante claro p’ra que duvidasses;
Ah! Vais conhecer Fedra em todo o seu furor:
Amo. Amo-te. Não penses que neste instante,
Inocente a meus olhos, me aprovo a mim mesma,
Nem que do louco amor que me turva a razão
Cobarde complacência nutra o seu veneno.
Objecto de infortúnio das iras celestes,
Abomino-me mais do tu me detestas.
As minhas testemunhas são Deuses, os Deuses
Que acenderam em mim fogo fatal à estirpe.
Os Deuses que se gabam da cruel vitória
Sobre este coração duma frágil mortal.
Em espírito, tu próprio, recorda o passado.
Não chegava fugir de ti; cruel expulsei-te.
Eu quis que me julgasses odiosa, inumana;
E, p’ra te resistir, teu ódio provoquei.
Afinal, que lucrei, com inúteis cuidados?
Tu odiavas-me mais, eu não te amava menos ….”

In “Fedra” de Jean Racine, Acto 2 Cena 5 (Biblioteca Sudoeste – Transcrição em versos dodecassílabos portugueses, Posfácio e Notas, António Barahona)

3 comentários:

Joca disse...

Quais demónios! As testemunhas são deuses :)
Mas que tragédia! :)
Só o ómega 3 nos pode salvar :)

Manuel Nunes disse...

Demónios, sim!. Fui abrir o meu livro e a tradução (Manuel Joaquim da Silva Porto, Editores Reunidos) varia bastante. Traduttore, traditore, tradutor=traidor. O melhor é ir seguindo pelo original. Ver em:
www.inlibroveritas.net/lire/oeuvre691.html

Maria Amélia disse...

Conferir traduções, sim, sim. Eu tenho o privilégio do original numa página e o Vasco Graça Moura na seguinte, frente a frente!