EDWARD HOPPER (1882-1967), Room in New York
EM FRENTE DO MAR
Pergunto a
mim próprio em que noite nos perdemos?,
que desencontro
nos levou de um a outro lado das
nossas
vidas? e que caminhos evitámos para que os nossos
passos se
não voltassem a cruzar? Mas as perguntas que
te faço,
hoje, já não têm resposta. Sento-me contigo,
nesta mesa
da memória, e partilho o prato da solidão. Tu,
na cadeira
vazia onde te imagino, sacodes o cabelo com
um aceno de
ironia. E dou-te razão: as coisas podiam
ter sido de
outro modo. Não te disse as palavras que
esperaste; e
havia o mar, com as suas ondas, nessa tarde
em que me
puxaste para longe da cidade, como se
a noite não
nos obrigasse a voltar, quando o horizonte
se apagou à
nossa frente. Depois disso, nenhuma
pergunta tem
resposta. O que é absurdo há-de continuar
absurdo,
como o horizonte não se voltou a abrir,
trazendo de
volta os teus olhos que me pediam que
os olhasse,
até que a noite me impedisse de o fazer.
NUNO JÚDICE, O Estado dos Campos (2003)
2 comentários:
Ora veja lá a comentadora dos amores extremosos se se inspira com estes Hopper e Júdice. :)
Colocaste um Hopper a ilustrar ... tocaste-me no coração.
Gosto muito, muito!
Nos seus quadros vejo histórias do quotidiano que podem ser reais. No caso presente é quase que o texto (belíssimo)do Júdice em imagem. Numa palavra: Perfeito!
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