30 junho 2013

FESTIVAL AO LARGO

Ontem, no Largo do Teatro Nacional de São Carlos. Peças de Ruggero Leoncavallo, Claude Debussy, Giuseppe Verdi, Richard Wagner, Gaetano Donizetti, Astor Piazzolla, Nino Rota e John Williams. Soprano Cristiana Oliveira e barítono Luís Rodrigues. Solistas Iva Barbosa (clarinete) e Gonçalo Pescada (acordeão). Orquestra Sinfónica Portuguesa com direcção musical de João Paulo Santos.
DIAS 5 E 6 DE JULHO HÁ MAIS.
 

29 junho 2013

HOJE JÁ ESTOU NOUTRA

Incipit de O PROCESSO, de Franz Kafka, edição da Assírio & Alvim - livro da próxima sexta-feira no clube de leitura do Museu Ferreira de Castro, Sintra.

Índice UV de 9 a 10, nível muito alto.
Protecção garantida com livros de sol (dotados de filtros UV),  chapéu literário e t-shirt romanesca.
É permitida a exposição a leituras saborosas. Beber muitos líquidos e sair só à noite: Festival ao Largo – TNSC – Lisboa.

24 junho 2013

Camões e os Desgovernos do Mundo


Camões, sempre actual foi a conclusão que chegámos, no rescaldo da última parte da nossa maratona de leitura, nos gentis espaços verdejantes da quinta de recreio do Marquês de Pombal em Oeiras

«Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse/
A quem ao bem comum e do seu Rei/
Antepuser o seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei./
Nenhum ambicioso que quisesse/
Subir a grandes cargos, cantarei,/
Só por poder com torpes exercícios/
Usar mais largamente de seus vícios;

Nenhum que use de seu poder bastante/
Para servir a seu desejo feio,/
E que, por comprazer ao vulgo errante,/                            
Se muda em mais figuras que Proteio./
Nem, Camenas, também cuidais que cante/
Quem, com hábito honesto e grave, veio,/
Por contentar o Rei, no ofício novo,/
A despir e roubar o pobre povo!

Nem quem acha que é justo e que é direito/
Guardar-se a lei do Rei severamente,/
E não acha que é justo e bom respeito/
Que se pague o suor da servil gente;/
Nem quem sempre, com pouco experto peito,/
Razões aprende, e cuida que é prudente,/
Para taxar, com mão rapace e escassa,/
Os trabalhos alheios que não passa.»
 (Canto VII, 84-86)

Luís de Camões, Os Lusíadas, Imprensa Nacional, 1971

Díone aos ombros de um Tritão- Columbano Bordalo Pinheiro (Canto II, 21)



Visita do rei de Melinde, Fragonard (Canto II)


Episódio de Inês de Castro, Columbano Bordalo Pinheiro (Canto III, 130)

O Adamastor, Lima de Freitas (Canto V, 39)

A Ilha dos Amores, Malhoa (Canto IX)

Ninfas e Tritões, Carlos Reis (Canto X,143)


23 junho 2013

ENTRE A ESPIGA E A MÃO ERGUE-SE UM MURO

Pepetela (1941)
 
Conheço Nacib e Mireille – a mão e a espiga – por entre o namoro às hortênsias e o curso lento da tarde. Predadores, terminei os capítulos iniciais de Setembro de 1992, lembrando-me de um verso lido ontem: Tra la spiga e la man qual muro è messo. Não, não foi em Petrarca, foi  Os Lusíadas de Camões (IX, 78).

20 junho 2013

MELROS


Desde o poema de Guerra Junqueiro que não via um melro tão bonito.

O MELRO


          O melro, eu conheci-o: 
Era negro, vibrante, luzidio, 
          Madrugador, jovial; 
          Logo de manhã cedo 
Começava a soltar, dentre o arvoredo, 
Verdadeiras risadas de cristal. 
E assim que o padre-cura abria a porta 
          Que dá para o passal, 
Repicando umas finas ironias, 
          O melro; dentre a horta, 
          Dizia-lhe: "Bons dias!" 
          E o velho padre-cura 
não gostava daquelas cortesias. 
(...)

 

19 junho 2013

OH! POMAR VENTUROSO!

Um nosso querido leitor em franca camaradagem com Luís de Camões. Em Constância, com as Tágides por perto, aos dez dias de Maio do ano da graça de dois mil e treze.

18 junho 2013

A PRISÃO DE GOA E O INJUSTO MANDO

Camões na prisão de Goa em 1556, segundo pintura anónima de que já se disse ser um auto-retrato.  Episódio não totalmente esclarecido da sua vida, não foi a última vez que sofreu perseguição e castigo judicial. Retornando sob prisão de Macau, cerca de 1565, acusado de crimes que hoje denominaríamos de “colarinho branco”, naufraga na foz do rio Mecom, Camboja.

Este receberá, plácido e brando,
No seu regaço o Canto que molhado
Vem do naufrágio triste e miserando,
Dos procelosos baxos escapado,
Das fomes, dos perigos grandes, quando
Será o injusto mando executado
Naquele cuja Lira sonorosa
Será mais afamada que ditosa.

X, 128

16 junho 2013

AÇORES, A PROPÓSITO DE CAMÕES...







O CAMÕES LÍRICO


Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio

E dar descanso às almas condenadas.

In Camões, L. (1971 [1560?]) Poesia Lírica (Livros RTP, Verbo, Lisboa), p. 85

Vem este soneto a propósito de algumas coisas, mas sobretudo para assinalar um certo estado de espírito sequente àquela nossa maratona, palavra que assinala um certo esforço... o que, realmente, não aconteceu, conforme já referido. O que me aconteceu, entre outras emoções, foi apetecer-me o Camões que em nenhuma etapa  havia rejeitado e que vivia no meu mais íntimo, em palavras maravilhosas, que se balbuciam ao ritmo do coração. Não serão muitos, os sonetos, mas enchem-nos a alma, talvez porque se trata da Alma Universal?. 

14 junho 2013

Os Deuses no Olimpo e os Leitores na Biblioteca

 
 
 
 
Fotos da Dulce e minhas, com reportagem completa da Dulce no FB
"...
Sustentava contra ele Vénus bela
Afeiçoada à gente lusitana
Por quantas qualidades via nela
Da antiga, tão amada, sua romana
Nos fortes corações, na grande estrela
Que mostraram na terra tingitana
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê latina. ..."
(I, 33)

Uma maratona que na realidade pareceu uma corrida de 100 metros, tão depressa o dia passou. O tempo foi curto para tanto que havia a explorar. Foi uma sessão intensa e rica, certamente por Vénus protegida.

"...
Desta arte se esclarece o entendimento
Que experiências fazem repousando
E fica vendo, como de alto assento
O baixo trato humano embaraçado
Este, onde tiver força o regimento
Direito, e não de afeitos ocupado,
Subirá (como deve) a ilustre mando,
Contra vontade sua, e não rogando"
(VI, 99)

Ficando no ar a sensação de obra inacabada, logo ali se gerou burburinho e reboliço para nova data agendar. Atentai leitores, que a obra continua:

"...

Já se viam chegados junto à terra
Que desejada já de tantos fora, 
Que entre as correntes indicas se encerra
E o Ganges, que no céu terreno mora.
Ora sus, gente forte, que na guerra
Quereis levar a palma vencedora!
Já sois chegado, já tendes diante
Aterra de riquezas abundante!
(VII, 1)

Para breve, a continuação...

13 de Junho, Maratona de Leitura "Os Lusíadas" de Luís de Camões.

O obrigado da nossa Comunidade de Leitores à Biblioteca Municipal de Sintra

11 junho 2013

AI, MARGARIDA


 
Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
— Tirava os brincos do prego,
Casava c'um homem cego
E ia morar para a Estrela.

Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
— (Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.

E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
— Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.

Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
— Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.

(Comunicado pelo Engenheiro Naval
Sr. Álvaro de Campos em estado
de inconsciência
alcoólica.)

09 junho 2013

MARATONA DE LEITURA

Isto diz-nos respeito, olá se diz, depois do arraial de Santo António e das quadras sobre Fernando António Pessoa em São Domingos de Rana. Na romântica Sintra, cantada por Camões:
 
Já a vista, pouco a pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam.
(...) 
 
Os Lusíadas, V, 3

07 junho 2013

COMUNIDADE DE LEITORES

Comunidade de leitores impulsionada pela nossa colega DULCE TEIXEIRA. Arranca amanhã, pela manhã, como sempre acontece com as coisas boas.

06 junho 2013

SOBRE PEPETELA

Excerto de um texto inédito deste escriba, feito há cerca de quatro anos já não se lembra bem com que objectivo, mas certamente como uma espécie de folha de bordo nas suas navegações pelos mares das letras. :)  Pequeno contributo para a compreensão de Pepetela, autor do mês na nossa Comunidade.

PEPETELA  E A CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO[1]
                                                                           

            No nº 2 de 1962 do boletim Mensagem[2], órgão da Casa dos Estudantes do Império (CEI), era publicado com a assinatura de Artur C. Pestana um pequeno conto daquele que ficaria conhecido na literatura angolana pelo pseudónimo de Pepetela. O jovem estudante tinha então vinte anos de idade e a narrativa, com o título “Velho João”, era encimada por uma dedicatória aparentemente ingénua: “A todos os que choraram a morte do Velho João, pedinte de profissão”.
Artur Pestana é citado nos dois primeiros números de 1962 do boletim da CEI como fazendo parte do seu corpo de colaboradores. Porém, no nº 3 de 1962 (Agosto), já nenhuma referência lhe é feita na ficha técnica do boletim, a qual se limita a reproduzir o nome do director e do autor das ilustrações, sendo provável que por essa altura já o promitente escritor tivesse saído de Portugal, por caminhos que o levaram a Paris e a Argel, para integrar, a partir do final da década, a frente da guerrilha que lutava pela independência de Angola. Ainda assim, no nº 4 do mesmo ano (mês de Novembro), o seu nome surge no discurso de Orlando da Costa na proclamação dos vencedores do Concurso Literário da CEI. Aí se alude ao conto “A Revelação”, distinguido com uma menção honrosa, como conto excelente, que Urbano Tavares Rodrigues classificou de pequena obra-prima[3]. No mesmo número publica-se a acta do júri, constituído, além de Orlando da Costa e Urbano Tavares Rodrigues, por Lília da Fonseca, Noémia de Sousa e Carlos Ervedosa.
            Estes dois contos da juvenília de Pepetela – “Velho João”, publicado na Mensagem[4] e “A Revelação”[5], que hoje se inclui na colectânea Contos de Morte –, expõem dois quadros típicos de injustiças infligidas pelo sistema colonial aos filhos da terra. São contos da opressão.

(…)


[1] A Casa dos Estudantes do Império foi uma associação juvenil que no período de 1944 a 1965, com o apoio do Estado Português, agrupava os jovens “ultramarinos” que estudavam na “Metrópole”. Além da prestação de serviços de cantina e assistência médica, a CEI dispunha de uma biblioteca, organizava bailes, promovia conferências e exposições de pintura, proporcionando a integração desses jovens num meio que lhes era estranho e, a partir de 1961, até hostil. Como muitas das estruturas associativas de então, foi aproveitada pelos associados para a realização de trabalho político. No boletim da CEI publicaram-se textos dos angolanos Agostinho Neto, Luandino Vieira, Arnaldo Santos, António Jacinto, Alda Lara, Viriato Cruz , Mário António, Alexandre Dáskalos, Mário Pinto de Andrade e outros.
[2] A consulta do boletim da CEI fez-se em MENSAGEM – Casa dos Estudantes do Império, 2 volumes, Lisboa, ALAC, 1996.
[3] Obra citada, p. 61 do boletim  nº 4 de 1962.
[4] Idem, pp. 28-31 do boletim nº 2 de 1962.
[5] Pepetela, Contos de Morte, Lisboa, Edições Nelson de Matos, 2008, pp. 17-32. Este conto foi inicialmente publicado em “Poetas e Contistas Africanos”, São Paulo, 1963.

05 junho 2013

"Predadores" de Pepetela - 28 de Junho às 21h00

 
"Caposso não abriu a boca de assombro, mas admirado ficou. Muitos Portugueses e Angolanos tinham começado a abandonar o país desde o ano passado, quando reconheceram a inevitabilidade da independência. Achavam que o país era deles, se babavam todos com as riquezas reais ou supostas de Angola, a terra do futuro, mas se fossem eles a mandar, não com negros no poder. E a guerra que estoirou entre os moviemntos de libertação aumentou o pânico e as filas de embarque. O aeroporto de Luanda tinha virado um hotel de três estrelas negativas, centenas de pessoas dormindo pelo chão dias a fio, à espera dos aviões da ponte aérea, o lixo se acumulando e as paredes enegrecendo de sujo. A terra estava de facto a ferro e fogo..."