11 junho 2013

AI, MARGARIDA


 
Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
— Tirava os brincos do prego,
Casava c'um homem cego
E ia morar para a Estrela.

Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
— (Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.

E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
— Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.

Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
— Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.

(Comunicado pelo Engenheiro Naval
Sr. Álvaro de Campos em estado
de inconsciência
alcoólica.)

6 comentários:

Custódia C. disse...

Ai Margarida, Margarida. Também aqui Margarida?

Maria Amélia disse...

Esta Margarida é mais despachada que a Bidinha... Embora ambas tenham rejeitado propostas poéticas? Serão assim as Margaridas deste mundo, que o Engenheiro Naval conheceria mais por intuição mecânica-alcoólica que outra coisa qualquer?

Manuel Nunes disse...

Não sei que saber de experiência feito podia ter o engenheiro naval por Glasgow, mas de certeza que, nestas matérias, o meu não será superior ao seu. Assim, resta-me a intuição (não propriamente mecanico-alcoólica), atrevendo-me a pensar que as Margaridas, sim, andam por aí - e que não é poesia o que elas querem! :):):)

Maria Amélia disse...

E que tal pensarmos que as Margaridas deste Mundo (e perdoem as outras Margaridas, lindo nome) também precisam de um pouco de poesia?

Paula M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paula M. disse...

Por muito pragmáticas que sejam as Margaridas, concordo com a Amélia: precisam sempre de um pouco de sensibilidade e porque não...de poesia. Afinal têm nome de flor.