Excerto de um texto inédito deste escriba, feito há cerca de quatro anos já não se lembra bem com que objectivo, mas certamente como uma espécie de folha de bordo nas suas navegações pelos mares das letras. :) Pequeno contributo para a compreensão de Pepetela, autor do mês na nossa Comunidade.
PEPETELA E A
CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO[1]
No
nº 2 de 1962 do boletim Mensagem[2], órgão da Casa dos Estudantes do
Império (CEI), era publicado com a
assinatura de Artur C. Pestana um pequeno conto daquele que ficaria conhecido
na literatura angolana pelo pseudónimo de Pepetela. O jovem estudante tinha
então vinte anos de idade e a narrativa, com o título “Velho João”, era
encimada por uma dedicatória aparentemente ingénua: “A todos os que choraram a
morte do Velho João, pedinte de profissão”.
Artur Pestana
é citado nos dois primeiros números de 1962 do boletim da CEI como fazendo
parte do seu corpo de colaboradores. Porém, no nº 3 de 1962 (Agosto), já
nenhuma referência lhe é feita na ficha técnica do boletim, a qual se limita a
reproduzir o nome do director e do autor das ilustrações, sendo provável que
por essa altura já o promitente escritor tivesse saído de Portugal, por
caminhos que o levaram a Paris e a Argel, para integrar, a partir do final da
década, a frente da guerrilha que lutava pela independência de Angola. Ainda
assim, no nº 4 do mesmo ano (mês de Novembro), o seu nome surge no discurso de
Orlando da Costa na proclamação dos vencedores do Concurso Literário da CEI. Aí
se alude ao conto “A Revelação”, distinguido com uma menção honrosa, como conto excelente, que Urbano Tavares Rodrigues classificou de pequena obra-prima[3]. No
mesmo número publica-se a acta do júri, constituído, além de Orlando da Costa e
Urbano Tavares Rodrigues, por Lília da Fonseca, Noémia de Sousa e Carlos
Ervedosa.
Estes
dois contos da juvenília de Pepetela – “Velho João”, publicado na Mensagem[4] e “A Revelação”[5], que
hoje se inclui na colectânea Contos de
Morte –, expõem dois quadros típicos de injustiças infligidas pelo sistema
colonial aos filhos da terra. São contos da opressão.
(…)
[1] A
Casa dos Estudantes do Império foi uma associação juvenil que no período de 1944 a 1965, com o apoio do
Estado Português, agrupava os jovens “ultramarinos” que estudavam na
“Metrópole”. Além da prestação de serviços de cantina e assistência médica, a
CEI dispunha de uma biblioteca, organizava bailes, promovia conferências e
exposições de pintura, proporcionando a integração desses jovens num meio que
lhes era estranho e, a partir de 1961, até hostil. Como muitas das estruturas
associativas de então, foi aproveitada pelos associados para a realização de
trabalho político. No boletim da CEI publicaram-se textos dos angolanos
Agostinho Neto, Luandino Vieira, Arnaldo Santos, António Jacinto, Alda Lara,
Viriato Cruz , Mário António, Alexandre Dáskalos, Mário Pinto de Andrade e
outros.
[2] A
consulta do boletim da CEI fez-se em MENSAGEM
– Casa dos Estudantes do Império, 2 volumes, Lisboa, ALAC, 1996.
[3] Obra
citada, p. 61 do boletim nº 4 de 1962.
[4] Idem,
pp. 28-31 do boletim nº 2 de 1962.
[5]
Pepetela, Contos de Morte, Lisboa,
Edições Nelson de Matos, 2008, pp. 17-32. Este conto foi inicialmente publicado
em “Poetas e Contistas Africanos”, São Paulo, 1963.
3 comentários:
Este escriba é sempre muito oportuno :)
Nem sempre...
Estou a gostar da obra. O seu olhar crítico não se esgotou no colonialismo.
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