Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
In Camões, L. (1971 [1560?]) Poesia Lírica (Livros RTP, Verbo, Lisboa), p. 85
Vem este soneto a propósito de algumas coisas, mas sobretudo para assinalar um certo estado de espírito sequente àquela nossa maratona, palavra que assinala um certo esforço... o que, realmente, não aconteceu, conforme já referido. O que me aconteceu, entre outras emoções, foi apetecer-me o Camões que em nenhuma etapa havia rejeitado e que vivia no meu mais íntimo, em palavras maravilhosas, que se balbuciam ao ritmo do coração. Não serão muitos, os sonetos, mas enchem-nos a alma, talvez porque se trata da Alma Universal?.
4 comentários:
Do épico ao lírico. Este soneto diz-me muito.
Lindo, Maria Amélia!
Sabem que mais? Ter estas coisas à mão é mesmo uma Benção! (E termo-nos uns aos outros também!)
Completamente de acordo! Soneto lindo. Sempre adorei o Camões lírico.
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