29 janeiro 2020

A FERROVIA DO DIABO

Cachoeira de Teotônio, Rio Madeira, Porto Velho

«… Este rio já teve dois grandes romances. Um, foi a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Levou quase meio século a fazer-se. Os homens chegavam e a febres – zás – matavam eles. Morriam às centenas. Alguns trabalhadores que fugiam, tremendo com sezões, eram mortos também pelos índios de lá, que são de outra tribo. As companhias faliam e o material ficava a apodrecer. O dinheiro que se gastou naquela estrada de ferro dava para fazer uma vinte vezes maior. O outro…» – Cap. XIII de A Selva, fala do senhor Guerreiro.
Referia-se o guarda-livros à ideia surgida na Bolívia, em meados do século XIX, de escoar a borracha daquele país através dos portos atlânticos do Brasil. Na região de Porto Velho e a montante, as vinte cachoeiras do rio Madeira impediam a navegação. A ferrovia até ao troço navegável do rio parecia ser a solução, mas só acabou de se construir em 1912, quando a borracha amazónica entrara em declínio face à concorrência dos produtores asiáticos. Uma obra feita para nada com grande gasto de vidas e dinheiro. Por tudo, ficou conhecida pelo nome de “Ferrovia do Diabo”.

1 comentário:

Maria Amélia disse...

Um simples comentário de agradecimento àqueles que se deram ao trabalho de pesquisar e partilhar tantas coisas interessantíssimas. Infelizmente, não tive oportunidade de corresponder, mas, na verdade, este acumular sempre acrescentado de esclarecimentos e conhecimento que a leitura de A Selva provoca, faz com que me sinta completamente assoberbada e sem perceber muito bem como encaixar o que a sessão ainda nos reserva... Por mim, pouco terei a acrescentar à riqueza das partilhas que se podem prever!