Imagens
daqui. Os “Gaiolas” Justo Chermont e Vitória
Os navios
“gaiolas”, embarcações típicas da rede fluvial do Amazonas, eram peças
fundamentais para o desenvolvimento económico, social e até mesmo político da
região Amazónica. Transportavam de tudo, entre passageiros e carga. Uma das
suas características era a possibilidade dos passageiros sem recursos, poderem armar
a sua rede para dormir, em qualquer parte do convés mais desfavorecido. Navegavam
rio acima, rio abaixo, aportando em cidades, vilas, aldeias, povoados ou apenas
embarcadouros que serviam os barracões seringueiros, como descrito neste
romance de Ferreira de Castro. Aqui, os “gaiolas” são referidos com regularidade
e nomes como Justo Chermont, Vitória, Aymoré, Campos Sales ou Sapucaia, tornam-se
familiares.
Aquando
da viagem de Alberto para o Paraíso no Justo Chermont, há um momento em que
este navio e o Vitória protagonizam uma espécie de regata competitiva.
“…
A
Parintins, sucedeu Itacoatiara e, na outra margem, indicada pelos braços dos
tripulantes, a bocarra do Rio Madeira. De lá saiu, rumando ao centro, em direcção
também a Manaus, um novo “gaiola”. E ou porque o Justo Chermont diminuísse a
marcha ou porque ele acelerasse a sua, em breve os dois se encontravam lado a
lado, para o desafio comum e recreativo naquelas infindáveis viagens.
- É
o Vitória! É o Vitória – exclamou-se entre o ruído de satisfação que o prélio
causava, quando o adversário esteve perto.
O
telégrafo do Justo Chermont retiniu na casa das máquinas e logo à popa aumentou
o referver da água em torvelinho.
Dum
para o outro barco, faziam-se sinais nervosos, cada qual vaticinando o êxito
daquele que o conduzia e procurando amesquinhar a capacidade do rival. A
primeira classe, mais moderada, assistia com um sorriso à regata mecânica, mas
todos contagiados pelo ambiente de luta, tanto mais que o Comandante Patativa
afirmara que havia de dar uma lição ao atrevido, reincidente em lançar-lhe
cartel de desafio.
Todavia,
o Vitória, intrépido na sua pequenez, manteve o talhamar na mesma linha, durante
quase uma hora. Cedeu, por fim, dez metros agora, vinte logo, até que
reconhecendo a impossibilidade de competir por mais tempo, silvou ao adversário
um irónico “boa viagem”. Pela primeira vez na sua longa carreira, o Comandante
Patativa não levou a mão à corda do apito para corresponder àquela saudação da
praxe.
…”
Ferreira
de Castro, “A Selva", Capítulo III
3 comentários:
No Capítulo XII é referida a imobilização de muitos "gaiolas" durante a vaza das «veias da selva» na estação seca. Encalhados os navios, «a hélice ao léu e o casco a enferrujar até à próxima enchente». Mas não no rio Madeira: « Por muito que descessem as águas, a sonda encontrava sempre, até o porto de Santo António, liberdade para todas as quilhas» - diz o narrador. Grande rio, este Madeira!
Quando andava a pesquisar, encontrei algumas fotos desses navios encalhados...
Obrigada Custódia, obrigada Emanuel.
Com toda esta informação, já não vou procurar, sim, eu também fiz uma lista...
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