Júlio Dinis, pseudónimo literário de Joaquim
Guilherme Gomes Coelho, não foi o único usado pelo autor de Uma Família Inglesa. Numa série de
cartas e textos publicados em diversos jornais, o jovem escritor adoptou o
pseudónimo feminino de Diana de Aveleda.
Diana de Aveleda, tanto nas suas
cartas a Cecília (personagem fictícia), como nas que dirigiu a articulistas da
imprensa portuense, assumia o papel de uma mulher inteligente, com alguma
cultura, que se demarcava do discurso masculino e da forma de sentir e agir
típica dos homens.
Foi assim que enganou Ramalho Ortigão
numa carta que lhe enviou depois de o futuro obreiro de As Farpas ter escrito um artigo no Jornal do Porto. Não me dei ao trabalho de procurar esse artigo,
mas devia exprimir ideias sobre a condição feminina, exaltando, dentro do
espírito do século, as mulheres culturalmente activas, atributos que não
agradaram a Diana de Aveleda.
Aqui fica um excerto dessa carta enviada
a Ramalho Ortigão em Fevereiro de 1863:
“A mulher digna de o ser é aquela em
cuja ortografia os eruditos tenham que lamentar a ignorância absoluta das
letras gregas e latinas, a que dos jornais políticos só lê o folhetim, a que
dum livro passa em claro os prólogos, que põe de parte as condições filosóficas
dos romancistas para seguir o entrecho do romance; que perde de vista a ideia
metafísica do autor, para não ver nos acontecimentos narrados senão
acontecimentos; a que não tem o ridículo descoco de repetir após a leitura o qu´est ce que cela prouve de filosófica
e insuportável memória. É a que folga com os casamentos no final da novela,
chora sinceramente a morte da heroína, sonha com a beleza do herói e odeia do
coração o pai, o tio, tutor ou conselho de família que se opõe à realização dos
castos desejos dos dois amantes.” [1]
O perspicaz Ramalho embatucou, não
desconfiou de nada, mas como cavalheiro que era lá publicou a seguinte nota:
“Recebi ontem o escrito, que hoje se
publica com este título [‘Coisas verdadeiras’] e que será concluído na folha de
amanhã. Era ele acompanhado de uma carta muito elegante e igualmente assinada
pela autora. Aplaudo-me de haver escrito com o título ‘Coisas Inocentes’ a
bagatela que me proporcionou esta honra.
Ignoro se Diana de Aveleda é um pseudónimo ou um nome. Basta-me também saber
que é uma senhora quem o escreve.
Em um folhetim que hei-de publicar
brevemente, buscarei provar que fui mal compreendido pela minha leitora e
colaboradora excelente. No entanto curvo-me muito respeitosamente diante da
fineza que acabo de receber e ponho o meu cordial agradecimento aos pés de
Diana de Aveleda.” [2]
Assim mesmo. Joaquim Coelho/Júlio
Dinis/Diana de Aveleda tinha na altura 24 anos. Ramalho Ortigão era um pouco
mais velho, 27.
2 comentários:
Estes jovens eram muito arrojados, essa é que é a verdade!
É o folhetim do Jornal do Porto de 25 de fevereiro de 1863. Podem consultá-lo online. Adriano Silva (BPMP)
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