EROS E SONHO
Ao João, leitor de D. H. Lawrence, que soube
sonhar
o sonho e o contou
Conhecias o flagelo do esquecimento,
a exígua memória
que habita a matéria dos sonhos, e por
isso os escreviasnum caderno que tinhas à cabeceira da cama. Foi assim
que pudeste falar do corcel do amor, priapo de asas
com que penetravas as húmidas cavernas da satisfação.
Deixavas-te levar na sela múltipla do seu dorso e sobrevoavas
planícies brancas que só existem na inocência
dos bons. Depois, ao rumor da noite, vias ondular o quimono
de seda duma gueixa, havia uma vibração de línguas
desafiando os equinócios da indiferença.
O poder iniciático cingia-te a fronte de miosótis,
caía no bosque do teu corpo a chuva agra e doce
do contentamento. Seguravas um livro, assim
como quem repousa a mão sobre um seio de mulher.
JOSÉ RAFAEL
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