02 janeiro 2013

AO ANO NOVO



Atravessou os recifes de coral da Polinésia horas antes
de se anunciar no Dubai e em Atenas. Seguia célere,
esperado nos cais da noite pela alegria dos homens.
Os cépticos, porém, desconfiaram, e deram em acreditar
que o antes se colaria ao agora, como o agora
se encostaria ao depois. O tempo é só um, disseram, e Zenão
de Eleia poderá ter rido na eternidade roxa dos seus paradoxos.
Nada percebo de metafísica, penso, nada sei da geografia do tempo,
essa ciência, talvez inexacta, que lida com os fusos horários
e os paradigmáticos meridianos. Sei apenas que tenho, no móvel
da sala, uma gaveta cheia de fotografias, folhas arrancadas
de velhos calendários, e, como cicatrizes, velas extintas  
de aniversários distantes. Esgares da memória com que hoje
me encontro num ano novo que sorri de nada.

JOSÉ RAFAEL

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