Novamente a «Geração Perdida» mas desta vez do lado de cá do Atlântico; D. H. Lawrence, escritor maldito para a moral «eduardiana» da Inglaterra da época e não só (veja-se o julgamento da Penguin Books quando edita o texto na sua versão integral em 1960); próximo do grupo inovador de Bloomsbury e do «Modernismo»; produto de uma industrialização por si malquista (o pai era mineiro e a paisagem verde/cinza de uma Inglaterra em transformação, a sua Eastwood natal, no Nottinghamshire nas Midlands mineiras, marca a sua obra). Exilado por questões do coração, da literatura e voluntariamente, mas inglês até à medula pela sua nostalgia da velha «Green England», dos cavaleiros e de Robyn Hood e pela sua acuta consciência das diferenças de classe, ainda tão vivas no início do séc. XX.
Eis aqui o final do seu prefácio da obra, de 1929:
«Assim, entre o puritano da velha escola, sempre ameaçado de sucumbir já serôdio, à indecência sexual; entre a pessoa à moda da nova geração que diz :« Podemos fazer tudo; se queremos pensar numa coisa podemos fazê-la»; e, finalmente, o bárbaro de alma vil e de espírito impuro, que procura a indecência, o campo de acção deste livro é muito estreitamente libertado. Mas eu digo-lhes, a todos:«Conservem as vossas perversões (...) de puritanismo, ou de moderno impudor, ou de simples grosseria. Quanto a mim, defendo o meu livro e a minha posição: a vida só é aceitável se o espírito e o corpo viverem em harmonia, se houver um natural equilíbrio entre ambos e sentirem um pelo outro um respeito espontâneo.»
10 comentários:
Pois, prefácio autoral datado de Paris, 1929. --- Gostei de saber, logo no capítulo I, que a mãe de Constance "fora uma fabiana erudita nos tempos pré-rafaelitas da prosperidade".
Era muita ousadia, lá isso era :)
Noite caseira a avançar nos capítulos. A Lady já conheceu o Mick e o guarda de caça acaba de surgir no bosque. O que um leitor faz para escapar dos vazios da vida! (riso moderado)
The best is yet to come... N/ desesperes Manel.
A propósito, ou despropósito, o que é «uma fabiana erudita»?
Donos de casa desesperados (riso amarelo)...
"Fabiana erudita" - Deve referir-se à Fabian Society, organização socialista, fundada em 1884, de onde saiu o Labour Party. Sou um grande ignorante destes tempos históricos, mas foi o que vi numa das minhas enciclopédias.
Só uma mãe destas poderia dar à filha uma tão boa educação sentimental :).
Obrigada pela elucidação... Idealista, daí a contestação da Lady ao marido em termos sociais... mas de resto, tb n/ parecia mt liberal, essa mãe atormentada.
Olha que o desespero pode dar as suas flores...
O poder de um romance, também se pode aferir pela sua capacidade de recriar novos mundos no leitor.
Podem ser mundos meramente utilitários; afectivos; oníricos; performativos; poéticos.
A literatura é o universo das mil e uma configurações de vidas possíveis.
Este romance oferece todas as possibilidades.
Meu Caro,
Gostei dessa ideia dos mundos performativos. Muito sugestiva, sim senhor.
Abraço
e boa viagem para a serra.
“A única maneira de se suportar a existência consiste em deixar-se arrebatar pela leitura como se numa orgia perpétua”. Frase de Flaubert numa carta enviada a Mario Vargas Llosa que nela se inspiraria para dar título ao seu livro sobre Madame de Bovary, La Orgia Perpetua.
Na serra (ou perto) vou encontrar motivos de arrebatamento.
Na serra estamos mais perto de Deus.
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