Dos sonhos perdidos:
“… Amontou a massa crua e cinzenta, informe, em cima do prato do torno, sentou-se no banco muito alto, deu ao pedal, o prato rodou, e ele pôs-se a afeiçoar o barro. Girando vertiginosamente, sob a palma das mãos e ao toque dos dedos, incrivelmente ágeis, o barro pouco a pouco tomou forma. Era primeiro uma bacia bojuda, depois um jarro, em seguida cresceu como se tivesse vida própria, lançou-se, esgadanhado, ondulou, fez-se melodia no ar – era uma ânfora grega! –
Olhando um momento, por cima dos óculos, a frágil fórmula efémera, o Boi-do-Val’ murmurou como se falasse sozinho:
- Eram coisas assim que eu gostava de fazer. Mas só faço tachos, panelas, alguidares! – e esmagou tudo com os punhos tremendos.
A Arte não tem nada que ver com o ganha-pão!
In “A Escola do Paraíso” de José Rodrigues Migueis
1 comentário:
... mas é o ganha-pão de alguns artistas. Grande Boi-do-Val, artista infeliz.
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