12 abril 2019

O PARAÍSO PERDIDO (1)

PARAÍSO PERDIDO é uma metáfora perfeita para INFÂNCIA. José Rodrigues Miguéis (1901-1980) nasceu no nº 13 da Rua da Saudade, cidade de Lisboa. Nas águas-furtadas, certamente, como o seu alter ego Gabriel cujos episódios da infância são narrados em A Escola do Paraíso. O nº 13 já não existe: soçobrou de velhice ou no transe das escavações do Teatro Romano. Agora, os números ímpares da rua saltam do 7 para o 15 sobre o telheiro que protege os vestígios arqueológicos do séc. I. Vejamos o que nos diz o texto:
«Os paquetes atracam logo em baixo, ao cais, e a rua deve talvez o nome à saudade que para sempre ficou flutuando no sítio: a saudade dos que ficam, e a dos que partem e querem prender-se à terra, de braços, olhos e almas alongadas. Os vapores encolhem os seus dedos de ferro, os rebocadores arquejam, retesam-se de esforço, vomitam fumaça negra - e eles lá vão devagar, contrariados, adornados ao peso da gente (às vezes soldadesca morena e pardacenta para as guerras-dos-pretos) que acode às amuradas, agarrada à derradeira imagem dos que ficam a dizer adeus-adeus, talvez à esperança absurda de que o navio afinal não chegue a zarpar.»
(...)
«Não se pode ter nascido ali, viver a ver chegar e partir navios todos os dias, com um rasto de lágrimas  e o esvoaçar de adeuses no azul, nem ouvir noite e dia estas vozes, sem ficar impregnado de irremediável nostalgia. Tudo isto, o rio imenso, os cais, o mar, os horizontes, se integra nele e ficará para sempre dentro dele como um apelo de longe e uma saudade, anseio de partir e de voltar: quando? e para onde?»
--- JOSÉ RODRIGUES MIGUÉIS, A Escola do Paraíso, Cap. 3 - Cais de Embarque.
 
= Fotos de 12-4-2019=
 

03 abril 2019

NO TEATRO

Um pequeno grupo de leitores da nossa Comunidade assistiu hoje, no Teatro D. Maria II, à récita de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Encenação de Miguel Loureiro. Da Memória ao Conservatório Real, apresentada pelo autor em conferência de 6 de Maio de 1843, respigamos o seguinte passo: «Contento-me para a minha obra com o título modesto de drama: só peço que a não julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composição de forma e índole nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela índole há-de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico.» Foi um bom espectáculo.


"A Escola do Paraíso" de José Rodrigues Miguéis - 26 de Abril às 21h00


A abrir

"O vento mia e rabeia no telhado, abala a casa, parece que leva tudo pelos ares, engolfa-se a espaços pela chaminé abaixo, espevita o lume onde a chaleira canta, vai fazer oscilar a chama do candeeiro de petróleo e arranca-lhe um veuzinho de fumo negro. Algures, uma porta mal engonçada bate no trinco, enfurecida, como se quisesse libertar-se e partir com o vento à grande aventura.
Na mansarda, de outro modo silenciosa, paira uma inquietação. Só ali na cozinha brilha a luz amarela e tranquila, que o abajur de papelão concentra na mesa e na tábua de engomar.Ao lado, pelo respiradouro em ogiva do ferro, espreita um lume quase branco, de inferno em miniatura, que espalha o aroma e o calor reconfortantes do sobro queimado. Alvas de neve e cuidadosamente dobradas, vão-se empilhando na mesa as peças dum minúsculo enxoval..."

Início do conto "O Gato Preto", o primeiro in "A Escola do Paraíso" de José Rodrigues Miguéis

01 março 2019

"Bom Dia, Tristeza" de Françoise Sagan, 29 de Março às 21h00


Abri ao acaso e li:

"...Surpreendeu-me a nitidez das minhas recordações a partir daquele momento. Adquirira uma consciência mais viva dos outros, de mim mesma. A espontaneidade,  o egoísmo fácil sempre foram, para mim, um luxo natural. Sempre vivera. Ora os últimos dias tinham-me perturbado o suficiente para me levarem a reflectir, a ver-me viver. Passava por todas as angústia da introspecção sem, contudo, me reconciliar comigo mesma..."

in Bom Dia, Tristeza de Françoise Sagan

06 fevereiro 2019

O Morro dos Vendavais, em película



Encontrei esta versão, que não conhecia (legendas em português do Brasil)


01 fevereiro 2019

Kate, Cathy & Heathcliff


Wuthering Heights by Kate Bush 

Out on the wiley, windy moors
We'd roll and fall in green
You had a temper like my jealousy
Too hot, too greedy

How could you leave me
When I needed to possess you?
I hated you, I loved you, too

Bad dreams in the night
They told me I was going to lose the fight
Leave behind my wuthering, wuthering
Wuthering Heights

Heathcliff, it's me, I'm Cathy
I've come home, I'm so cold
Let me in through your window

Heathcliff, it's me, I'm Cathy
I've come home, I'm so cold
Let me in through your window

Ooh, it gets dark, it gets lonely
On the other side from you
I pine a lot, I find the lot
Falls through without you

I'm coming back, love
Cruel Heathcliff, my one dream
My only master

Too long I roam in the night
I'm coming back to his side, to put it right
I'm coming home to wuthering, wuthering
Wuthering Heights

Heathcliff, it's me, I'm Cathy
I've come home, I'm so cold
Let me in through your window

Heathcliff, it's me, I'm Cathy
I've come home, I'm so cold
Let me in through your window

Ooh, let me have it
Let me grab your soul away
Ooh, let me have it
Let me grab your soul away
You know it's me, Cathy

Heathcliff, it's me, I'm Cathy
I've come home, I'm so cold
Let me in through your window

Heathcliff, it's me, I'm Cathy
I've come home, I'm so cold
Let me in through your window

Heathcliff, it's me, I'm Cathy
I've come home, I'm so cold

"O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë - 22 de Fevereiro às 21h00


"... Aproximámo-nos todos, e eu, por cima da cabeça de Cathy, enxerguei um garotito sujo e andrajoso de cabelos pretos. Era suficientemente grande para andar e falar e, pelo rosto, parecia até mais velho do que Catherine; mas, quando o puseram de pé, limitou-se a olhar em volta e a repetir, sem parar, palavras que ninguém entendia..."

in "O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë

21 janeiro 2019

Sensibilidade e Bom Senso, no grande ecrã



Depois da leitura, vale a pena rever uma (ou mais) das muitas adaptações de Sensibilidade e Bom Senso ao cinema. Esta versão tem um dos meus actores preferidos (que morreu há 3 anos), o Alan Rickman.

08 janeiro 2019

O Escritor no seu Labirinto - 19 de Janeiro


Mais uma sessão do 2º ciclo de encontros com escritores, a ter lugar na nossa Biblioteca, no próximo dia 19 de Janeiro às 16h00.

03 janeiro 2019

"Sensibilidade e Bom Senso" de Jane Austen - 25 Janeiro às 21h00



"...If I could but know his heart, everything would become easy...", in Jane Austen's "Sense and Sensibility"

Para respeitar o romantismo e o ambiente vitoriano, tão encantadoramente descritos nos romances (ou será novelas?) da Jane Austen, deixei propositadamente em inglês, esta referência ao primeiro livro do ano.

As fotos são de duas capas muito elegantes, sendo a segunda de uma edição em inglês, que optei por comprar, seguindo o conselho da nossa leitora Maria Amélia. Foi uma boa opção porque todo o livro é mesmo muito bonito, com pequenas ilustrações intercaladas.

31 dezembro 2018

2019 - BOAS LEITURAS!

De entre outros e bons votos, aqui vai o de boas leituras, com uma (pertinente) consideração: isto é vício, vocação, ou tendência genética? (Brindando com a imagem do mais recente rebento da família, futura leitora compulsiva?)


24 dezembro 2018

Feliz Natal

Sandro Botticelli, The Mystical Nativity (1500-1501)

08 dezembro 2018

Plano de Leituras 2019


(Detalhe ... da estante cá de casa)

Plano de Leituras 2019

1º Trimestre – Literatura no Feminino

25 JAN - Jane Austen - Sensibilidade e Bom Senso 
22 FEV - Emily Brontë - O Monte dos Vendavais
29 MAR - Françoise Sagan - Bom Dia Tristeza 

2º Trimestre – Autores Esquecidos

26 ABR - José Rodrigues Miguéis – A Escola do Paraíso 
31 MAI - Maria Judite de Carvalho – Tanta Gente, Mariana 
28 JUN- Luís de Sttau Monteiro – Um Homem não Chora 

3º Trimestre – Literatura Alemã

26 JUL - Goethe – Werther 
30 AGO - Herman Hesse – O Lobo das Estepes 
27 SET - Erich Maria Remarque – Uma Noite em Lisboa 

4º Trimestre – Queridos Autores

25 OUT - Eça de Queirós – A Capital 
29 NOV - Philip Roth – Pastoral Americana 
27 DEZ - Gabriel García Márquez - Doze Contos Peregrinos 

05 dezembro 2018

"Crónica do Rei Pasmado" de Gonzalo Torrente Ballester - 28 de Dezembro às 21h00


"...
Mas o remédio a curto prazo tem que ser acordado agora mesmo entre Vossa Excelência e eu.
- De que remédio se trata?
- De impedir que o Rei veja a Rainha nua. Os pecados da noite passada são suficientes para pôr em perigo a monarquia e, com ela, a verdadeira cristandade; se a isto acrescentarmos essa monstruosa contemplação proibida pelas leis humanas e divinas, não me atrevo a imaginar o que será de nós..."

Parte de um diálogo entre Sua Paternidade o Padre Villaescusa e Sua Excelência o Valido in "Crónica do Rei Pasmado" de Gonzalo Torrente Ballester

07 novembro 2018

"O Pintor de Batalhas" de Arturo Pérez-Reverte - 30 de Novembro às 21h00


"O triunfo da morte" (1562) de Pieter Brueghel, o Velho, a pintura que dá a capa ao romance"O Pintor de Batalhas" de Arturo Pérez-Reverte, no livro das edições ASA. O quadro está no Museu do Prado, em Madrid.

25 outubro 2018

Música em "A Velocidade da Luz"



No Bar Treno's, o aviso de que este estava prestes a fechar, era dado no momento em que punham a tocar esta canção de Dylan, que Rodney adorava. Mais tarde quase no final do romance, o narrador vai encontrar o cd, na casa de Jenny, a viúva de Rodney. A letra tem tanto de belo, quanto de triste. Percebe-se o porquê do Nobel...

It's Alright, Ma (I'm Only Bleeding), Bob Dylan

Darkness at the break of noon
Shadows even the silver spoon
The handmade blade, the child's balloon
Eclipses both the sun and moon
To understand you know too soon
There is no sense in trying

As pointed threats, they bluff with scorn
Suicide remarks are torn
From the fool's gold mouthpiece
The hollow horn plays wasted words
Proves to warn
That he not busy being born
Is busy dying

Temptation's page flies out the door
You follow, find yourself at war
Watch waterfalls of pity roar
You feel to moan but unlike before
You discover
That you'd just be
One more person crying

So don't fear if you hear
A foreign sound to your ear
It's alright, Ma, I'm only sighing

As some warn victory, some downfall
Private reasons great or small
Can be seen in the eyes of those that call
To make all that should be killed to crawl
While others say don't hate nothing at all
Except hatred

Disillusioned words like bullets bark
As human gods aim for their mark
Made everything from toy guns that spark
To flesh-colored Christs that glow in the dark
It's easy to see without looking too far
That not much
Is really sacred

While preachers preach of evil fates
Teachers teach that knowledge waits
Can lead to hundred-dollar plates
Goodness hides behind its gates
But even the president of the United States
Sometimes must have
To stand naked

An' though the rules of the road have been lodged
It's only people's games that you got to dodge
And it's alright, Ma, I can make it

Advertising signs that con you
Into thinking you're the one
That can do what's never been done
That can win what's never been won
Meantime life outside goes on
All around you

You lose yourself, you reappear
You suddenly find you got nothing to fear
Alone you stand with nobody near
When a trembling distant voice, unclear
Startles your sleeping ears to hear
That somebody thinks
They really found you

A question in your eyes is lit
Yet you know there is no answer fit to satisfy
Insure you not to quit
To keep it in your mind and not forget
That it is not he or she or them or it
That you belong to

Although the masters make the rules
For the wise men and the fools
I got nothing, Ma, to live up to

For them that must bow down to authority
That they do not respect in any degree
Who despise their jobs, their destinies
Speak jealously of them not are free
Cultivate what they do to be
Nothing more than something
They invest in

While some on principles baptized
To strict party platform ties
Social clubs in drag disguise
Outsiders they can freely criticize
Tell nothing except who to idolize
And then say God bless him

While one who sings with his tongue on fire
Gargles in the rat race choir
Bent out of shape from society's pliers
Cares not to come up any higher
But rather get you down in the hole
That he's in

But I mean no harm nor put fault
On anyone living in a vault
But it's alright, Ma, if I can't please him

Old lady judges watch people in pairs
Limited in sex, they dare
To tell fake morals, insult and stare
While money doesn't talk, it swears
Obscenity, who really cares
Propaganda, all is phony

While them that defend what they cannot see
With a killer's pride, security
It blows the minds most bitterly
For them that think death's honesty
Won't fall upon them naturally
Life sometimes must get lonely

My eyes collide head-on with stuffed graveyards
False gods, I scuff
At pettiness which plays so rough
Walk upside-down inside handcuffs
Kick my legs to crash it off
Say okay, I have had enough
What else can you show me?

And if my thought-dreams could be seen
They'd probably put my head in a guillotine
But it's alright, Ma, it's life, and life only

23 outubro 2018

O Escritor no seu Labirinto


No próximo Sábado, na nossa Biblioteca, há mais uma sessão da série "O Escritor no seu Labirinto".

01 outubro 2018

"A Velocidade da Luz" de Javier Cercas - 26 de Outubro às 21h00


A leitura promete, Logo a abrir é assim:


"Agora levo uma vida falsa, uma vida apócrifa, clandestina e invisível embora mais verdadeira do que se fosse real, mas eu era ainda eu quando conheci Rodney Falk. Foi há muito tempo e foi em Urbana, uma cidade do Middle West norte-americano onde passei dois anos nos finais da década de oitenta. A verdade é que cada vez que me interrogo por que terei ido parar precisamente lá, respondo a mim próprio que fui parar precisamente lá como poderia ter ido parar a qualquer outro sítio. Contarei por que razão, em vez de ir parar a qualquer outro sítio, fui parar precisamente lá..."

in "A Velocidade da Luz" de Javier Cercas

05 setembro 2018

"O Caminho Imperfeito" de José Luís Peixoto - 28 de Setembro, às 21h00

Abri ao acaso e li:

"... A canja tinha patas de galinha, era o melhor. A minha mães escolhia-mas para o prato. Eu segurava-as e chupava-lhes a carne - descolava-se sem esforço. Deixava apenas os ossos, como peças de um brinquedo de montar.
Onde ficou esse rapaz? Onde me afastei dele até quase parecer que o esqueci? Que distância é esta que nos separa? ..."

in "O Caminho Imperfeito" de José Luís Peixoto (final do capítulo 50)


Esperemos que não haja sobressaltos e possamos voltar à rotina das nossas sessões, na última Sexta-feira de cada mês. Qualquer alteração, daremos noticias...

18 agosto 2018

Sessão de Agosto cancelada!


Caros companheiros de leitura

Desta vez não há alternativa e temos mesmo que cancelar a sessão de Agosto. Férias de Verão, por assim dizer...

Em Setembro, tentaremos fazer uma abordagem aos dois livros, o de Agosto e o de Setembro. Daremos mais notícias em tempo útil.

Entretanto ... aproveitem bem o Verão que chegou tarde, mas chegou! Há por aí muitos e bons programas!!!|

05 agosto 2018

"Na Patagónia" de Bruce Chatwin - 31 de Agosto às 21h00


Abri ao acaso e caí no capítulo 51:

"Os sulistas ainda hoje se lembra do esbelto galego ruivo que nem barba tinha. Os seus olhos azuis semicerrados traduziam bem a incerteza e o fanatismo celtas. Vestia, naquele tempo, calças justas e polainas e usava o boné posto de lado na cabeça. Plantava-se na rua lamacenta  a citar frases de Proudhon e Bakunine a cerca da propriedade ser o roubo e a destruição de uma paixão criativa, enquanto o vento fustigava as suas bandeiras vermelhas..."

in "Na Patagónia" de Bruce Chatwin

01 agosto 2018

Há sempre um lado bom!







Ainda a propósito dos percalços relativos à realização da última sessão da Comunidade, que felizmente acabou em bem e agradecendo mais uma vez os esforços levados a cabo pelos responsáveis da Biblioteca, houve um lado bom, que ainda em tempo apetece destacar. Como a Biblioteca abriu só para a CL, foi possível regressar ao nosso espaço de eleição, à sala principal de leitura. Optimamente instalados, com melhores condições acústicas e rodeados daquilo que desde 2007 nos leva àquele espaço: os livros! É a leitura que nos move e são os livros que nos juntam. Esperamos continuar a ter a oportunidade de, na última Sexta-feira de cada mês, voltar sempre àquele local. Os livros, nunca nos faltam ...

26 julho 2018

Actualização - Sessão de amanhã, 27 de Julho

Caros Leitores

Informo que devido a esforços suplementares por parte dos responsáveis da  Biblioteca de SDR, foram ultrapassadas as dificuldades para amanhã, 27 de Julho, pelo que vamos conseguir realizar a sessão deste mês na Biblioteca. 

Contamos convosco, como habitualmente!

Sessões (forçadamente) suspensas

Por questões logísticas e de segurança, a Biblioteca de SDR, não nos pode disponibilizar o espaço habitual nos meses de Julho e Agosto. Assim, ficam suspensas as nossas Sessões nestes dois meses. 

Como amanhã temos um jantar marcado, a que muitos já aderiram, podemos sempre "salvar" o livro de Julho e discutir as Viagens ao longo do repasto!

Para Agosto, quem sabe conseguimos organizar um encontro, nalgum jardim simpático? Podemos pensar no assunto...

Como sou optimista, espero que a normalidade possa ser retomada no mês de Setembro ....

11 julho 2018

As Viagens de Marco Polo - 27 de Julho - 21h00


A abrir

"Aqui começa o livro do Senhor Marco Polo de Veneza, que se chama "Milhão", o qual conta muitas novidades de Tartária e das três Índias e de muitos outros países..."

in "As Viagens de Marco Polo" - edição de bolso Europa-América

03 julho 2018

UM OLHAR SOBRE O NOVO MUNDO


Depois da leitura do intenso Philip Roth em A Mancha, que nos leva, entre outras mil reflexões, a questionar o nosso (re)conhecimento europeu de uma América do Norte  real e histórica, eis uma oportunidade para ouvir (e viver) uma interpretação desse Novo Mundo, com a Sinfonia de Dvořák... No Largo já nosso conhecido, dia 12, 21.30h... Mas com aquele intervalo de espera que sabemos.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Concerto para Oboé e Orquestra

Antonín Dvořák (1841-1904)
Sinfonia n.º 9 ("Novo Mundo")

Durante a primavera e o verão de 1777, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) ocupou-se com a escrita do Concerto para Oboé em Dó maior, K. 314 que ofereceu ao famoso oboísta italiano Giuseppe Ferlendis. Com três andamentos cuja duração não excede 20 minutos, este concerto, um dos mais importantes no repertório de oboé, foi dado como perdido durante quase 150 anos, tendo sido redescoberto em 1920 pelo maestro Bernhard Paumgartner. A Sinfonia n.º 9 em Mi menor, op.95, mais popularmente conhecida por Sinfonia do Novo Mundo, foi composta por Antonín Dvořák (1841-1904) em 1892 durante a sua estadia nos Estados Unidos quando o compositor foi convidado a fundar o Conservatório Nacional de Música, precursor da atual Juilliard School of Music. Esta sinfonia com quatro andamentos, a última de Dvořák, foi estreada com estrondoso sucesso no Carnegie Hall de Nova Iorque em 1893. As críticas, altamente elogiosas, definiram a obra como sendo uma nobre composição de proporções heróicas, inspirada na beleza dos espirituais negros e em canções das plantações. Contudo, e segundo palavras do próprio compositor, a sua intenção foi apenas escrevê-la de acordo com o espírito das melodias nacionais norte-americanas.

24 junho 2018

Poeta do mês de Junho - Joaquim Pessoa

(Joaquim Pessoa)
Há pequenas aves que têm raízes nas palavras,
essas palavras que não ficam arrumadas com decência
na literatura,
palavras de amantes sem amor, gente que sofre
e a quem falta o ar quando faltam as palavras.
Quando digo o teu nome há uma ave que levanta voo
como se tivesse nascido o dia e uma brisa
encarcerada nas amêndoas se soltasse para a impelir
para o mais frio, para o mais alto, para o mais azul.
Quando volto para casa o teu nome vai comigo
e ao mesmo tempo espera-me já
numa casa construída com dois nomes,
como se tivesse duas frentes,
uma para a montanha e outra para o mar.
Por vezes dou-te o meu nome e fico com o teu,
espreito então pelas janelas de onde
se vêem coisas que nunca antes tinha visto,
coisas que adivinhava mas que não sabia,
coisas que sempre soube mas que nunca quis olhar.
Nessas alturas o meu nome é o teu olhar,
e os meus olhos são justamente a pronúncia do
teu nome que se diz com um pequeno brilho molhado,
um som pequeno como um roçagar de asas
dessas aves que constroem o ninho na folhagem da fala
e criam raízes fundas nas palavras vulgares
que os vulgares amantes engrandecem
quando falam de amor.

Joaquim Pessoa in “GUARDAR O FOGO, cento e quatro inéditos e uma antologia"

09 junho 2018

LA BELLE DAME SANS MERCI

Ilustração de JOHN WILLIAM WATERHOUSE para o enigmático poema de JOHN KEATS.
Assim se vai fazendo a leitura de A Mancha Humana, de PHILIP ROTH. Uma mulher fogosa e um decrépito professor aposentado; a dama impiedosa e o cavaleiro ajoujado de anos: «Sou um homem de 71 anos com uma amante de 34, o que me incapacita, na comunidade de Massachussetts, de instruir seja quem for. Tomo Viagra, Nathan. Aí está  La Belle Dame sans Merci. Devo toda esta turbulência, toda esta felicidade, ao Viagra.» Aqui chegados, quem é esse Nelson Primus, advogado insípido que ainda não viu nada do mundo, para procurar cercear a sensual turbulência do classicista Coleman Silk? Leitura feita até às primeiras páginas do capítulo 2, "Jogo de Esquiva". Veremos o que nos reserva o adiantado da obra.



04 junho 2018

"A Mancha Humana" de Philip Roth, 29 Junho às 21h00


Ao acaso

" ... Nada dura e, todavia, nada acaba, também. E nada acaba precisamente porque nada dura..." 

in "A Mancha Humana" de Philip Roth

29 maio 2018

MÁRIO DE CARVALHO

O autor de "Casos do Beco das Sardinheiras", "A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho" e "Ronda das Mil Belas em Frol" tem novo livro de contos. O título é extraído de um poema de Mário Cesariny, podendo ler-se na sinopse da contracapa: « Um marido recalcitrante ludibriado pela esposa defunta; um casal num jantar de amigos, elas amigas íntimas dele; um recém-viúvo percorrendo a lista das suas conquistas mais assíduas (...)» Aqui, ao dar com as palavras «lista» e «conquistas», como que me soou uma campainha de alarme: veio-me à memória aquela epígrafe das "Belas em Frol" retirada do libreto de "Don Giovanni", de Mozart: « Osservate, leggete con me.» 
Listas e conquistas à parte, este é, provavelmente, um livro a propor para as leituras de 2019.`

21 maio 2018

03 maio 2018

DANDO CONTINUIDADE AO "ELOGIO..."

Para fazer o retrato íntimo de certos personagens e das suas relações especiais (para não as classificar de outro modo, fazendo juízos de valor), Vargas Llosa socorre-se da arte, de obras de arte sugestivas, que servem de mote ao desenvolvimento de algumas ideias (perniciosas?). Claro que, na sequência de "O Elogio da Madrasta", também vamos encontrar, desta feita, um artista cuja obra talvez não seja muito divulgada... pelos motivos que vamos descobrir! Mas sobre esse artista poderemos voltar a falar mais tarde. Por enquanto, quero partilhar a experiência de ter visto e fotografado ao vivo, na National Gallery em fevereiro último, uma das obras evocativas da nossa primeira leitura, "O Elogio...". Lembram-se?





01 maio 2018

"Os Cadernos de Dom Rigoberto" de Mário Vargas Llosa - 25 de Maio às 21h00


Estão preparados para voltar a encontrar Dom Rigoberto, Dona Lucrécia e Fonchito?

E não se esqueçam que a sessão termina com a poesia de Bocage...

02 abril 2018

"O Deus das Pequenas Coisas", de Arundhati Roy - 27 de Abril às 21h00


Abri o livro ao acaso e este parágrafo despertou-me a atenção:

" ... Pequenos acontecimentos, coisas vulgares, destruídas e reconstituídas. Investidas de novo significado. Subitamente tornam-se nos ossos descorados de uma história..."

in "O Deus das Pequenas Coisas", de Arundhati Roy

13 março 2018

FILOMENA MARONA BEJA

A escritora de "A Cova do Lagarto", "O Eléctrico 16", "Franceses, Marinheiros e Republicanos...", "Um Rasto de Alfazema" e "Avenida do Príncipe Perfeito" na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana. Sábado, 24 de Março, às 16 horas.


11 março 2018

"Enseada Amena" de Augusto Abelaira, 23 de Março às 21h00


A abrir

"Só agora Ana Isa dá por isso: o casaco de lã que, momentos antes, ao sentar-se muito cansada naquele banco da Avenida, pôs de lado ao alcance da mão, poderia parecer (a olhos estranhos) que guardava um lugar. Para um amigo? Uma amiga? Por exemplo (ideia que não lhe passou pela cabeça): um lugar para o Osório - o Osório que nesse preciso instante a observa, o Osório que duas ou três vezes já, nos últimos anos, a tem visto aqui ou ali, sentada ou a andar, e não vai ter com ela, o que é (ele bem o sabe) uma fuga..."

"Enseada Amena" de Augusto Abelaira

05 fevereiro 2018

"Nem Todas as Baleias Voam" de Afonso Cruz, 23 de Fevereiro às 21h00

Sinopse (na Wook)

Em plena Guerra Fria, a CIA engendrou um plano, baptizado Jazz Ambassadors, para cativar a juventude de Leste para a causa americana. É neste pano de fundo que conhecemos Erik Gould, pianista exímio, apaixonado, capaz de visualizar sons e de pintar retratos nas teclas do piano. A música está-lhe tão entranhada no corpo como o amor pela única mulher da sua vida, que desapareceu de um dia para o outro. Será o filho de ambos, Tristan, cansado de procurar a mãe entre as páginas de um atlas, que encontrará dentro de uma caixa de sapatos um caminho para recuperar a alegria. 


Entrevista ao autor aqui (blog literário da Wook)

12 janeiro 2018

Encontros inesperados

Teofilo Cubillas

"Teofilo Cubillas, o peruano sorridente. Isaltino de Jesus pasmou perante o poster e não queria acreditar. Era o Teofilo Cubillas a sorrir exactamente no mesmo poster que o Norte Desportivo oferecera aos portistas devotos nos idos anos setenta do século passado...............................
Durante décadas enquanto Isaltino discutia no gabinete do seu chefe as estratégias dos casos que investigavam, via um poster de Cubillas exactamente igual àquele, colado na parede com pedacinhos de fita-cola, acusando inúmeros rasgões, já sem pontas, cheio de vincos de mil dobras diferentes, motivadas por arquivamentos esquecido no tempo e com manchas de fumo, deixadas ali pelos charutos da praxe do inspector... "

in Capítulo cinco de "a máquina de fazer espanhóis", de Valter Hugo Mãe.

E quando menos se espera, damos de caras com os nossos conhecidos inspector Jaime Ramos e agente Isaltino de Jesus, com quem nos cruzámos em Novembro passado, no decorrer de "Um Crime Capital" de Francisco José Viegas. A ver vamos como se dão com os residentes do lar feliz idade...

06 janeiro 2018

O Escritor no seu Labirinto, 13 de Janeiro às 16h00


Mais uma conversa informal na nossa Biblioteca, no âmbito dos ciclos de encontros com escritores. No próximo Sábado às 16h00. 

05 janeiro 2018

"a máquina de fazer espanhóis" de Valter Hugo Mãe, 26 Janeiro às 21h00


" ... naquela tarde o carteiro chegou e encostou a bicicleta no lugar de sempre e foi ao encontro do américo que andava cima e baixo a passear os velhos, o carteiro entregou ao américo um molho de cartas onde estava a que eu falsificara cuidadosamente para a dona marta. levei umas horas a redigir aquela carta. não porque fosse longa, que não era, era breve como tudo, mas porque era importante que dissesse algo bem pensado, algo para lhe fazer um agrado, uma carta segura com garantias de fornecer alegria à velha calada..."

in "a máquina de fazer espanhóis" , capítulo nove "o tempo não é linear", de Valter Hugo Mãe

28 dezembro 2017

A FEBRE DE SENTIR

«Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias de bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu.»

14 dezembro 2017

INSANUS OU A INSÂNIA DO QUOTIDIANO

Insanus, de Carlos Querido, é um livro de contos editado em Julho deste ano pela Abysmo. Anteriormente, o autor publicara Salir de Outrora (2007), Praça da Fruta ( 2009), A Redenção das Águas (2013) e Príncipe Perfeito-Rei Pelicano, Coruja e Falcão (2015). Se o primeiro destes livros se apresenta como uma pesquisa em torno de documentos históricos relativos aos coutos do Mosteiro Cisterciense de Alcobaça, Praça da Fruta é uma narrativa cuja acção decorre nos nossos dias, remetendo embora para os marcos históricos fundamentais das Caldas da Rainha (em cuja região nasceu e reside o autor), enquanto os dois últimos livros são romances históricos em torno das figuras reais de D. João V e D. João II, ambas com ligações conhecidas ao burgo caldense.
O conto, género literário agora trabalhado pelo autor, radica «em ancestrais tradições culturais que faziam do ritual do relato um factor de sedução e de aglutinação comunitária» (Dicionário de Narratologia de Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes), processo bem patente em duas obras da tradição europeia: Decameron, de Boccaccio (séc. XIV), e Heptameron, de Margarida de Navarra (séc. XVI). É caracterizado pela concisão, brevidade e unidade de efeito (Allan Poe). Certa crítica realça-lhe a capacidade de criar uma atmosfera em detrimento da acção.
Os contos de Insanus não têm uma leitura linear e unívoca. Há a considerar uma história de superfície (em que o estranho ou o fantástico quase sempre imperam) e outra escondida, de segundo nível, a que não se acede directamente. Neste sentido, é compreensível que a epígrafe da colectânea tenha sido retirada de Edgar Allan Poe, autor de contos fantásticos e teorizador do género literário short story. São vinte e nove contos narrados na primeira e na terceira pessoa com as vozes das personagens fundidas no discurso do narrador. Tratando-se de contos curtos (entre duas a sete páginas), estabelece-se um relação próxima com o poema, o fragmento e até o sketch, tendo em conta o humor amargo que transparece em alguns deles. As marcas da ambiguidade e do inesperado estão presentes nas alusões aos universos paralelos e às dicotomias sombra/luz e mundo real/mundo fictício. A referência em diversos textos à figura da “Repartição”, opressora e castradora dos sonhos das personagens, sugere a dimensão do desejo irrealizado face ao desencanto da vida quotidiana, trazendo à lembrança o poema “O Funcionário Cansado”, de António Ramos Rosa, do livro Viagem através de uma Nebulosa (1960): «Sou um funcionário apagado / um funcionário triste / a minha alma não acompanha a minha mão» – da mesma forma que a sombra não acompanha o corpo da personagem do conto “Sombras”, antes se solta dele num registo paradoxal e inquietador.      
Não sendo possível abordar todos os textos da colectânea, referir-nos-emos de forma breve a “MitoLógico”, “Legião é o Meu Nome” e “Insanus”.
“MitoLógico” retoma a imagem do unicórnio de Júlio Pomar, pintura realizada em 1955 para o Café Central das Caldas da Rainha, já referida pelo autor em Praça da Fruta. Porém, a atenção do leitor é conduzida neste conto para a lição de Kafka, precisamente a que é dada em A Metamorfose. Com uma diferença assinalável: se o infeliz Gregor Samson não encontra forma de resolver a sua monstruosa transformação, acabando por morrer para alívio de toda a família, a inominada personagem de “MitoLógico” descobre talvez a salvação no relacionamento com a sua colega de curso. Neste sentido, apesar do final ambíguo, regista-se uma mensagem que diríamos de esperança. História de recorte fantástico, deve ser vista com mais propriedade na sua dimensão metafórica e simbólica. O género conto, pela concisão e brevidade, presta-se à transmissão de um conceito moral ou um exemplo. Vários títulos testemunham esta aptidão que lhe é normalmente reconhecida: Contos & Histórias de Proveito & Exemplo (Gonçalo Fernandes Trancoso), Novelas Exemplares (Cervantes), Contos Exemplares (Sophia). Em “MitoLógico” há indiscutivelmente uma história de proveito e exemplo: a do adolescente incompreendido pelos seus progenitores, o recurso a psicólogos para suprir as consequências da falta de amor, a necessidade de encontrar fora da família, entre os da sua idade, o amparo que lhe falta em casa. Há aqui, sob a narrativa de superfície, uma mensagem não explícita para o leitor desvendar. Aliás, a introdução da letra capital L no cerne do título, desintegrando a estrutura semântica do vocábulo e transformando-o no sintagma “mito lógico”, estabelece um paradoxo indiciador de que muito mais há a ler e a compreender para além da peripécia do aparecimento do corno na testa do protagonista.
“Legião É o Meu Nome” representa, de certa fora, um diálogo intertextual com o episódio do geraseno endemoninhado, segundo os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas. De que maneira pode aceitar um defensor dos direitos dos animais, como é o caso do protagonista do conto, o sacrifício da vara de porcos a que se acolheu, por vontade de Jesus, a legião de demónios? O conto questiona a mensagem dos evangelhos e a insensibilidade do Filho de Deus que deixou afogar no mar os indefesos animais. Marcos dá-nos conta do desespero dos próprios gerasenos perante aquele “massacre” de consideráveis consequências económicas (a vara tinha cerca de dois mil porcos), tendo suplicado a Jesus que abandonasse os seus territórios (Marcos, 5-17). Assim, a alusão ao hermético episódio dos evangelhos e a incompreensão dos pastores da Igreja (padre Serafim) perante a crise psíquica do protagonista traduzem-se numa crítica aos que, confundidos por princípios religiosos, abandonam os homens à solidão e ao sofrimento sem remédio. Aspecto interessante deste conto é o facto de a narração se efectuar em registo epistolar através de carta dirigida pelo protagonista à sua mulher, carta datada de Rilhafoles, 13 de Maio de 2013 ( curioso, tanto o local como a data), não faltando mesmo um post scriptum.   
Finalmente, “Insanus”,  o último conto que dá título à colectânea. Neste texto, segundo um efeito de mise en abyme, há um narrador que conta uma história sobre o autor-narrador dos vinte e oito contos antecedentes. Mais uma vez, estão presentes as alusões a lugares das Caldas da Rainha (fonte das Cinco Bicas) e da sua região (feira medieval de Óbidos). É na noite da cidade termal, entre o «cheiro tépido de cinza e enxofre», que ocorre a revolta das personagens contra o criador que lhes deu a vida (vida de cão, como se lê em diversos contos). É grande o rol das criaturas: «um tipo que cheira a cinza, um unicórnio, náufragos, suicidas, uma mulher que tem o corpo do marido a apodrecer em casa, um pistoleiro sem nome, dois pregadores, um surfista, etecetera, etecetera» – todas saídas das páginas do livro. Protestam as infelizes por não lhes ter sido dada uma existência decente, fazendo-as protagonistas de enredos tristes e desgraçados.  O autor-narrador sente-se culpado, tem dúvidas sobre a legitimidade das histórias e pensa em outras soluções que poderia ter encontrado para não fazer tão infelizes as suas criaturas. Tomado pelas dúvidas, talvez se tenha lembrado da conhecida frase de Nietzsche: «Não é a dúvida, mas a certeza que nos torna loucos»   ele que havia criado os seus contos ao abrigo de uma frase peremptória sobre a insânia:  I became insane, with long intervals of horrible sanity. E sente-se  aliviado quando por fim amanhece e as personagens contestatárias desaparecem «para cumprir os enredos que são os seus destinos».
Pela nossa parte, não tendo motivo para recear personagens de ficção, ficamos a aguardar com interesse os próximos contos de Carlos Querido.