Ficha do cartunista SPACCA em jubiaba.blogspot.com
A CIDADE-MULHER
Li hoje o
segundo capítulo de Jubiabá, “Infância
remota”. Infância remota de António Balduíno, o menino que observava a cidade do alto do morro e dela adivinhava mais do que se pode esperar de uma criança.
Uma primeira nota para a dimensão erótica, dada pelo narrador, desta observação
da cidade (cidade-mulher), aquele
espaço de certa forma interdito onde fulguravam luzes, circulavam bondes e se
movimentava a gente de diversas classes nas suas labutas diárias. O despertar remoto da sexualidade.
À espera de,
à hora do crepúsculo, ver as luzes se acenderem, Baldo tinha uma volúpia que
«parecia um homem esperando a fêmea». Uma vez, sentindo, vindo lá de baixo, um «choro
de mulher e vozes que a consolavam», houve um tropel dentro dele que «o
arrastava numa vertigem de gozo». Havia sofrimento na cidade, diferente
certamente do que se vivia no morro, mas o «menino de oito anos, gozava aqueles
pedaços de sofrimento como o homem goza a mulher.» E tudo isto, assim mesmo mal entendido, tornava Baldo mais
terno na sua rudeza de menino desamparado. Se algum companheiro se aproximasse dele
naqueles instantes de contemplação, «ele o acariciaria sem dúvida, não o
receberia com os beliscões costumeiros» e passaria «a mão sobre a carapinha do
companheiro de brinquedos, recostaria o peito ao peito do amigo. E talvez
sorrisse.»
Ainda numa linha de erotismo, dizia a irmã Luísa do pai de Baldo: «Ele era um negro bonito de encher a
boca de água.»
E isto é apenas
sobre as duas primeiras páginas do capítulo. Já iremos ao pai-de-santo Jubiabá
e aos ABC de Zé Camarão.
2 comentários:
Eu li o Jubiabá quando tinha os meus dezasseis anos, pelo que tenho poucas memórias presentes. Algumas personagens e uma ou outra cena, pelo que vai ser uma redescoberta. E há muita poesia nesta escrita, não há?
Há muita poesia, sim. Também li em moço.
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