31 março 2020

"A MONTANHA MÁGICA", O SANATÓRIO BERGHOF E O CONFINAMENTO

A fotografia, de 1915, é do Sanatorium Valbella, de Davos, que terá servido de modelo a Thomas Mann para o Sanatório Berghof d’ A Montanha Mágica. Esta é a história dum jovem engenheiro alemão, Hans Castorp, que vem visitar o seu primo ali em tratamento. A estadia era para ser de três semanas, mas entretanto é o próprio Castorp que se vê acometido por um foco de tuberculose, sendo aconselhado pelo reputadíssimo Behrens, médico-chefe do sanatório, a ficar internado sem nenhuma previsão de quando poderia voltar à vida normal.
Há nos primeiros capítulos do romance um discurso recorrente sobre o tempo: o tempo físico e o psicológico, a aparência das suas diferentes velocidades.
Isto faz-me reflectir sobre o tempo vivido em confinamento. Estranhamente, parece-me que ele corre depressa, os dias esgotam-se num ápice. Ando por aqui a fazer o que me é permitido e quando dou por mim é já de noite. Esta é a sensação descrita no romance para Hans Castorp quando passa da situação de visitante a doente internado. Não me adentro nos argumentos filosóficos avançados pelo narrador para tal fenómeno, leiam que depois falamos. Tais argumentos podem surgir como paradoxais: então não é do senso comum que quanto mais distraídos andamos, mais o tempo parece correr depressa? E que em situações de monotonia (de confinamento) vem o tédio e toma conta de nós, fazendo de cada dia um tempo imensamente longo?
A minha experiência, como disse, não o indica, mas o melhor é que cada um fale por si.

3 comentários:

Custódia C. disse...

Digamos que o confinamento é o que nós fazemos dele e só é monótono se deixarmos. Digo eu, é claro :)
Eu estou como tu, sinto que os dias passam rápido e por vezes não consigo fazer tudo o que planeei para esse dia (o que significa também que até no confinamento podemos fazer planos...).
Quanto à Montanha Mágica, vou procurá-lo nos livros em segunda mão :) Abriste-me o apetite. Ainda por cima tenho boas recordações de Davos :)

Emanuel disse...

Força, Custódia, e boa leitura. Não é fácil...mas compensa.

Maria Amélia disse...

Em primeiro lugar, foi aqui "aberto o apetite" para um livro nada fácil de ler e digerir; para mim teve muito pouco do que se espera de um romance, ainda que o seja. Pensando a uma distância muito grande das leituras feitas do livro, posso dizer que, das muitas coisas que me ficaram e todas elas são de aproximação filosófica à vida, a mais importante é a de noção do tempo, que não está associada a nada do que a lógica ditaria. Hans Castorp dá-se conta da passagem do tempo, porque "é outra vez Natal". Claro que a vida lhe reserva, mesmo "doente", uma grande surpresa, num final que não convém revelar. Mais tarde, para além da experiência pessoal, também percebi melhor, na história de Job, doente e confinado, quando diz que os dias passam como lançadeira de tear. uma imagem certeira. Para nós, também...