EUGÈNE DELACROIX, A Liberdade Guiando o Povo (1830). Comemoração da Revolução de Julho de 1830 ou Revolução dos Três Dias Gloriosos, referida em A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Queda da dinastia absolutista de Bourbon e subida ao trono de Luis Filipe de Orleães, o rei burguês.
Do Quarto Capítulo d´A Montanha Mágica, de Thomas Mann, li
hoje o subcapítulo “Temor Crescente. Dos dois avós e do passeio de barco ao
lusco-fusco.” É um extenso trecho do romance em que as asserções da personagem
Ludovico Settembrini levam o protagonista Hans Castorp a reequacionar algumas
das suas concepções do mundo e da vida numa atitude de estranhamento, de
tentativa de compreensão e, finalmente, de alguma admiração e respeito por
aquele seu antagonista.
Ludovico Settembrini está em tratamento no sanatório Berghof de Davos-Platz e Hans Castorp é visita do mesmo sanatório onde pensava passar
três semanas a acompanhar o seu primo Joachim ali igualmente em tratamento.
Castorp é um jovem engenheiro alemão
fortemente marcado pelo avô cristão e conservador que, por morte dos pais, se
encarregou de o educar. Settembrini é um erudito de nacionalidade italiana cujo
espírito revolucionário da família remonta ao seu avô Giuseppe.
Sobre as ideias de Settembrini e a
estranheza de Castorp perante elas, diz o narrador: «Uma só vez, contava o
italiano, uma só vez na vida, no princípio da sua idade adulta, conhecera o avô
a felicidade em toda a sua plenitude – por ocasião da revolução de Julho em
Paris. E então proclamara, publicamente e a plenos pulmões, que um dia viria em
que todos os homens iriam comparar aqueles três dias de Paris aos seis dias da
criação do mundo. Ao ouvir tal coisa, Hans Castorp não se pôde conter e bateu
com o punho na mesa, tão profunda era a sua estupefacção. Parecia-lhe de um exagero
inaudito pretender comparar os três dias do Verão de 1830, durante os quais o
povo de Paris promulgara uma nova Constituição, aos seis dias que Deus Nosso
Senhor levara a separar os continentes dos oceanos e a criar as estrelas do
firmamento, as flores e as árvores, os pássaros e os peixes, enfim, toda a vida
à face da Terra.»
Isto e muito mais foi ouvido pelo
jovem Hans Castorp da boca de Ludovico Settembrini e acabou por produzir nele
um efeito que superou a estranheza inicial, vendo no discurso do italiano algo
«que valia a pena ouvir e saber, se bem que mais a título experimental e sem
compromisso.»
Se será assim ou não, só o poderemos
saber em fase mais adiantada do romance.
2 comentários:
Não li a Montanha Mágica, mas deste testemunho, sinto que aquele avô Giuseppe, seria uma personagem a explorar em força :)
Sim, é uma personagem interessante, embora apenas citada pelo neto, o erudito
Settembrini.
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