JORGE AMADO (Itabuna, 1912 - Salvador, 2001)
«Jubiabá, esse
adorável Jubiabá, marca para nós uma transição na obra do
autor. Aí já o horizonte se alarga imensamente. Os personagens começam a viver
por si. Já não se trata de figurinos (concordamos que figurino é um pouco
excessivo) justificando ideias. Aqui há pessoas que vivem. Poderemos esquecer
Baldo, o negro António Balduíno, procurando o seu «caminho de casa», Santo
Jubiabá e o seu «olho da piedade», os suspiros de Maria Clara, sua canção do
cais, o morro do «Capa Negro», a bela figura do Gordo na «Lanterna dos
Afogados»?
Poderemos
esquecer a história de Lindinalva, a Companhia do Grande Circo Internacional, a
saudação no cais de Baldo a Hans, o marinheiro? E porque nos apetece Jubiabá num
plano tão diferente?
Simplesmente por
isto: Jorge Amado foi neste livro ao fundo do homem.Todo o romance, feito
afinal dum conjunto de romances, feito de vida, é a análise do homem
desnorteado, do homem-tipo da nossa época, que procura um rumo, um homem
vergado ao peso de milhentos problemas, que procura nortear-se e caminhar,
caminhar sempre. E esse homem não é António Balduíno, a figura mais cuidada do
livro. Esse homem é António Balduíno, é a velha Luísa, Giuseppe, Luigi,
Rosenda, Rosendá, etc.» --- MÁRIO DIONÍSIO em "A propósito de Jorge
Amado-II", O Diabo, nº 165, 21 de Novembro de 1937.
4 comentários:
Sim, não é o romance de um homem só. António Balduíno é a figura que nos leva a uma galeria de muitas personagens, anti-heróis de vidas dolorosamente estonteantes, onde a resistência à desgraça e à pobreza é uma constante. É uma leitura viva, cheia de movimento, entre os enredos criados pelas vidas reais e o imaginário do povo....
Estou a gostar muito!
Sim, Custódia, é isso. E esta apreciação do romance é feita quando Mário Dionísio tinha apenas 21 anos... E Jorge Amado pouco mais.
Gosto muito da foto: o gato, esse pequeno deus, ali deitado junto à máquina de escrever da criação.
Lembraste bem!
Tinha pensado fazer um comentário à foto e depois esqueci-me!!!
Aquele ar de reflexão quase dúvida do Jorge Amado, em contraste com a total displicência do gato, que parece ter ali um poiso habitual :) :)
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