19 março 2020

JUBIABÁ (3)

Café (1935), de Cândido Portinari, óleo sobre tela, 130x195, exposto ironicamente no "Stand de Arte" do Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português (1940)

A literatura brasileira, tanto a de temas nordestinos (Euclides da Cunha, João Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos), como a de escritores do sul como Erico Veríssimo, teve uma grande influência no nascimento e desenvolvimento do neo-realismo português.
Aprecie-se este passo do capítulo "Moleque" de Jubiabá:
«Os homens negros do cais do porto pararam o trabalho em outra ocasião. Desta vez a noite era sem estrelas e sem lua. Do violão de um cego na Lanterna dos Afogados vinham cantigas de escravo. Foi quando um homem trepou num caixão e começou a falar. Os outros cercaram-no, foram chegando todos para perto. Quando António Balduíno e o seu grupo chegaram, já o homem gritava apenas vivas, a que a massa correspondia:
- Viva!
(...)
O homem que estava em cima do caixão, e que pelo seu jeito era espanhol, jogou um punhado de papéis, que foram disputados. António Balduíno pegou um que deu ao estivador António Caroço, que era seu amigo. Foi quando alguém gritou:
- Lá vem a polícia...»
A mensagem é clara, acompanhada da dimensão poética do discurso, bem presente na frase que fecha o capítulo: «Ia ao cais todas as noites e ficava espiando no mar o caminho de casa.»

1 comentário:

Custódia C. disse...

Gosto tanto do Portinari! Perfeito para ilustrar muitas das cenas do Jubiabá que, enquanto vou relendo, lembra-me o porquê de ter gostado tanto da primeira vez. Dos momentos de sublime poesia, em contraste com a rudeza das situações descritas.