"Anno e meio,
ou dois annos, depois lembrei-me um dia de fazer um partida ao Sá-Carneiro – de
inventar um poeta bucolico, de especie complicada, e apresentar-lh’o, já me não
lembro como, em qualquer especie de realidade. Levei uns dias a elaborar o
poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de
Março de 1914 – acerquei-me de uma commoda alta, e, tomando um papel, comecei a
escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos
poemas a fio, numa especie de extase cuja natureza não conseguirei definir. Foi
o dia triumphal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um
título, “O Guardador de Rebanhos”. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguem em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da phrase: apparecera
em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive."
Da carta de
Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro, datada de 13 de Janeiro de 1935, publicada
pela primeira vez no nº 49, de Julho de 1937, da revista presença.
1 comentário:
Um génio, a construir a história da literatura universal!
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