“Sobre a leitura” é um escrito de
Roland Barthes para a Writing Conference de
Luchon, de 1975. Está publicado em O
Rumor da Língua, Edições 70, pp. 31-35.
Na terceira parte deste texto, o
crítico francês aborda as relações entre leitura e desejo, dizendo: “(…) não
há dúvida de que existe um erotismo da leitura (na leitura, o desejo está ali
com o seu objecto, o que é a definição do erotismo).”
Dois traços são apresentados em
defesa da tese: a identificação do sujeito humano que lê (o lente) com o
sujeito amoroso e o sujeito místico; e a presença na leitura-desejo de todas as
emoções do corpo, desde a dor à volúpia.
Teresa de Ávila fazia da leitura o
substituto da oração mental; o lente isola-se e fecha-se (como o jovem narrador
da Recherche que se fechava na casa
de banho, segundo um conhecido episódio daquela obra, para se entregar ao “prazer
solitário” de ler) numa relação dual com o objecto da leitura que não é
distinta do recolhimento da oração (orador-Deus) ou da fruição do prazer
amoroso (amante-amado).
A relação da leitura com a analidade,
deduzida da referida passagem da Recherche,
é finalmente sustentada por Barthes. E isto é matéria que certamente
provocará ou indignará os nossos leitores em função das suas respectivas sensibilidades
(uns mais sensíveis que outros, atrevo-me a admitir) – se é que vão ler este escrito, do que sou obrigado a duvidar
não só pelas escassas visitas ao blogue, como pela poalha de silêncio solene
e frio que grassa no espaço virtual dos comentários.
4 comentários:
Essa da analidade não lembrava ao diabo. Fui ver ao dito texto: "Todavia, algo de mais enigmático se dá a ler, a interpretar, no episódio proustiano: a leitura - a volúpia de ler - teria certa relação com a analidade; uma mesma metonímia encadearia a leitura, o excremento e - como vimos - o dinheiro." Bem...
Companheiro M.: Julgo que o silêncio no espaço sideral dos comentários tem a ver com a falta de pedalada que o pessoal trabalhador tem para acompanhar os corredores de fundo das literaturas e companhia ilimitada. Quer dizer, a gente vê, lê e assim, mas falta a inspiração para botar faladura. Já agora, devo dizer que julgava estas cenas da relação psicológica com a analidade, passadas à história... Do Barthes, prefiro O Prazer do Texto, embora o diabo possa tecê-las...
Faço minha as palavras da MA.
Ler ainda leio, muitas vezes à noite, numa corrida, para não estar totalmente a "leste do paraíso".
Mas depois há toda a outra vida para além do blog, que por vezes se torna prioritária e não nos deixa grande margem de manobra ...
Posto isto e nos dias de hoje já nada nos choca ... nem mesmo a relação da leitura com a analidade :)
Mas que coincidência curiosa: um dia desta semana, indo à cata de publicações do E.N. à REMAR, depararam-se-me 2 exemplares de A Leste do Paraíso, a mesma edição, igual à minha, e igualmente desfeitos...vejo então o pessoal da minha idade, salvo seja, a ler e a reler como eu, nos anos 70, o que, para nós, era o fabuloso Steinbeck...ainda o será?
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