Quem ler a Tragédia do Marquez de Mantua, de Baltasar Dias (não é muito extensa, cerca de quarenta páginas em versos de sete
sílabas), percebe que a questão que
nela se coloca é a da relação entre poder e justiça. O poder para ser forte
terá de ser justo.
O filho do imperador Carlos Magno, D.
Carloto, comete um crime, um homicídio, na pessoa do sobrinho do Marquez de
Mantua, de nome Valdovinos, com o intuito de se apoderar da viúva, Sybilla.
Provado o crime, devia o imperador
esquecer os laços de família e condenar o filho ou, ao contrário, fazer tábua
rasa das queixas dos ofendidos e proteger o seu sucessor? Como grande soberano,
exerceu cegamente a justiça, e D. Carloto foi degolado.
O que é curioso é que esta peça,
levada por senhores de engenho e dignitários para as ilhas equatoriais,
foi sendo subvertida, ao longo dos tempos, pelos naturais que a representavam.
A introdução de bastantes passagens apócrifas, subordinadas ao sentimento local,
distanciam-na hoje do texto original do poeta madeirense.
A questão que se colocava ao
povo santomense antes da independência era a iniquidade do poder colonial, pelo que representar uma peça cujo
tema central era o exercício de um poder não iníquo constituía, em certo
sentido, uma forma de resistência. Ainda que depois da independência tenha o Tchiloli evoluído, acentuando-se os signos e referências dos valores africanos, desde sempre que só
parcialmente foi tributário da cultura lusa e europeia. O colonialismo não percebeu isso,
parece.
Nota: Sobre o nome “Tchiloli”, diz
Christian Valbert no seu estudo: “On ne connait pas l’ origine de ce mot”.
1 comentário:
Gostei muito destes últimos posts. Completam muito bem tudo o que temos lido no "Oríon"...
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