Já que estamos «numa» de interligar assuntos, que globalmente farão sentido e se tocarão aqui e ali, remeto-vos agora para o «nosso» humilde e habitual, bem português, azulejo, fabricado em série por ordem pombalina para revestir o interior e exterior das casas reconstruídas dos escombros do terramoto; revestindo qualquer fachada de prédio de Lx, por inteiro ou em elegante e desapercebido friso de Arte Nova, até ao início do séc. XX;decorando as casas de emigrantes, com muitas reticências estéticas, há 30 anos e agora, descendo ao subsolo e ornamentando, sob a égide e desenho de grandes nomes, o metro lisboeta. Isto para nomear apenas alguns casos. Houve tantas e tão ricas utilizações do azulejo em Portugal! É uma arte decorativa e de revestimento, por vezes de qualidade artística desigual, mas com um encanto «naif» muito especial. Uma arte de pequenos pormenores... E de narrativa pela imagem por excelência.
Mas não é apenas nossa: é isso que a exposição da Fundação Gulbenkian nos demonstra. Arte que fez o esplendor das cidades e construções, numa rota que vem do Oriente e, via a «estrada» do Mediterrâneo, se encontra presente no Sul e Norte da Europa. Desde os «Inícios» no Oriente Próximo, passando pelas «Paredes que Falam», quais cartazes e quadros de outras épocas; a sua «Decoração e Mensagem» revelam muito sobre quem os produziu; são veículos de «Poética Narrativa» nessa sempre constante ligação entre literatura e arte, espécie de bandas desenhadas de temas bíblicos, mitológicos ou outros (das fábulas de La Fontaine, até compêndios de Matemática e Geometria); e, finalmente «Sob o Signo do Progresso: nos séc. 19 e 20», fábricas, técnicas, designs, utilizações... tais são os núcleos temáticos do passeio pela Rota do Azulejo.
Rota que acompanhou outras, certamente, e que não deixa de nos maravilhar, estendendo-se da Pérsia dos azuis turquesa, à China; da Turquia dos brilhantes Iznik, à Síria; dos alicatados do Magrebe, aos coloridos de Valência e Sevilha, às cidades italianas e seus elegantes pavimentos, à Flandres e Holanda e os seus avulsos a azul e sépia e painéis de desenho de fino traço e a Portugal, da esfera armilar do palácio de Sintra, espaldares de bancos para descansos conventuais, frontais de altares imitando intrincadas taperias, damas sofisticadas no toucador, «chinoiseries», deusas e musas, produção seriada da Fábrica do Rato de delicadas florinhas; das fábricas de cerâmica de Bordalo e de Sacavém à Grã- Bretanha de William Morris e Alemanha da Villeroy & Bosch.
Aqui ficam alguns exemplos:
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Friso dos Arqueiros, Susa, Irão, c. 522-486 ac, Museu do Louvre |
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Azulejo em estrela, com dourados, Kashan, Irão, c. 1270 , Gemeentemuseum, Den Haag |
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Pavimento, oficina italiana, Antuérpia, entre 1512 e 1541, Gemeentemuseum, Den Haag |
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Azulejo em estrela com figuras, Kashan, Irão, 1296/1297, Museu do Louvre |
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Esfera armilar, Palácio Nacional de Sintra |
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Azulejo didáctico, Coimbra (?), c. 17/1750, Museu Machado de Castro, Coimbra |
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A Kaaba, em Meca, Kütahya, Turquia, primeira metade do séc. XVIII, Museu do Louvre |
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Revestimento, Magrebe, c. 1450, Museu del Disseny de Barcelona |
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Azulejos Isnik, Turquia , segunda metade séc. XVI, museu Calouste Gulbenkian |
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Azulejo chinês, c. 1700/1730, Tegelmuseum, Otterlo, Holanda |
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Cercaduras com crianças brincando, Talavera de la Reina, c. 1564/1565, Colecção Família Cardoso Pinto |
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Painel La Xocolatada (pormenor), Barcelona , 1710, Museu del Disseny de Barcelona |
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Painel La Xocolatada , Barcelona , 1710, Museu del Disseny de Barcelona |
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Revestimento de parede, William Frend De Morgan e William Morris, 1876/77, Museu d' Orsay |
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Rafael Bordalo Pinheiro, 1904, Museu Rafael Bordalo Pinheiro |
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Max Laeuger , Kandern, Alemanha, 1908/10, Tegelmuseum, Otterlo, Holanda |
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Bülent Erkmen, Painel, Azulejos Iznik, Instambul, 2009, Museu do Azulejo |
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Figura de Convite: Minerva, primeira metade séc. XVIII, Portugal |
7 comentários:
Boa ligação, Paula. Alô, alô.
Aí está uma exposição que muitos distraídos ainda não foram ver. E já não têm muito tempo- 26 de Janeiro o último dia, não é?
Safa! O blogue está carregadinho de ideias... e de imagens.
Pela minha parte, prometo não colocar nada nas próximas 2 horas.
:) :) :)
Paula
Ainda bem que lembraste!
Cativante a tua prosa sobre a exposição
Vou tentar lá ir na hora de almoço de Domingo ...
Nem todo(a)s andam distraídas. Tive o prazer de encontrar algumas das nossas amigas e companheiras quando lá estive dia 12 :)
Sim, Paula, eu sei. Elas andam caladas, mas vão a todas (lol).
Camarada, ando caladinha e a trabalhar. Entro no blog e fico tonta com tanta troca de comentários, que não consigo dar conta do recado. Vamos lá continuar a bombar cultura! Pela cultura, também vamos :)
Camarada, concordo inteiramente. O calado é o melhor!
Lembra-te daquele dito: "Eles falarem, falarem, mas não dizerem nada de se aproveitar" LOL
Apreciei, Paula, a partilha de conhecimentos e algum deslumbramento com a arte azulejar. Acontece-me que fui sempre adiando o aprofundar conhecimentos sobre este tema, para o qual pontua o especialista reconhecido à mão, o José Meco. Mas o teu post levou-me a rememorar um momento muito denso: a visita (repetida) à Mesquita Azul, em Istambul... Talvez publique alguma coisa, também para puxar por quem também tem memórias...
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