Interessante, quando se visita um
museu, é tentar compreender as obras naquilo que elas são umas em relação às
outras.
Aqui está um exemplo: Deposição no Túmulo (c. 1530), de Cristóvão de Figueiredo, e Martírio de S. Sebastião (1536), de Gregório Lopes.
Foram produzidas – a primeira para o
retábulo de Santa Cruz de Coimbra e a segunda para a charola do Convento de
Cristo, em Tomar – com apenas seis anos de diferença. No entanto, este diminuto
intervalo de tempo encerra uma significativa alteração de ordem estética: a que
vai da arte do Renascimento aos primeiros sinais da rebelião maneirista.
Perante o equilíbrio e a serenidade da
primeira obra, relacionando o episódio da morte de Cristo com alusões, no
facial do túmulo, ao Antigo Testamento, temos em Martírio de S. Sebastião uma pintura claramente violadora da norma
clássica, desde a arrojada figuração do mártir (figura serpentinata) ao próprio hermetismo da narrativa.
A não perder a exposição do Museu do Prado no MNAA, mas, se possível, aproveitar para revisitar as grandes obras de pintura portuguesa que fazem parte do seu acervo.
5 comentários:
Julgo que pelo menos a obra de Gregório Lopes é um objeto de estudo iconográfico fabuloso, para a respetiva área científica, evidentemente. De notar a atualização dos algozes, que não são, seguramente, figuras de soldados romanos, mas um archeiro e um besteiro (?) da época do pintor. Também me recordo sempre que numa dessas visitas ao MNAA, julgo que para vermos as Tapeçarias de Pastrana, reparei que a posição da mão esquerda do S. Sebastião que aparece à direita, não estará anatomicamente correta. Ora vejam lá.
O detalhe da mão já fez correr muita tinta: erro da oficina do pintor ou representação intencional? Só que é um detalhe, há muito mais.
Quanto à representação epocal dos vestuários e dos fundos arquitectónicos, ela é comum a toda a arte deste tempo. Lembras-te das Tapeçarias de Pastrana? Arzila, ou lá que praça de África era, apresentava-se segundo uma cidade flamenga.
Uma vez mais, o que é realmente importante: a leitura, quer dizer, da interpretação livre, primária, pessoal e impressiva de cada um, a evoluir para a descodificação iconográfica, na medida dos conhecimentos, das associações, das conjeturas, como questões de partida , as perguntas sem as quais não se vai a parte nenhuma... Embora muito boa gente pense que fazer perguntas não é para adultos...Vai lá então bater à porta dos enigmas e levar as pessoas à perplexidade perante o já conhecido mas, afinal, nunca VISTO. Suponho que se passe algo de idêntico em relação à seleção do Prado, porque, francamente, se me perguntarem o que mais me impressionou nas visitas que fiz àquele museu, não vou referir as obras que agora nos apresentam. Mas alguma coisa importante significam. Vamos VER.
O que gostei e o tempo que levei a ver "As Tapeçarias de Pastrana" ... encantaram-me os pormenores e a minuciosidade.
Enviar um comentário