Nossa Senhora de Paris (1831) não é só um grande livro, é o livro dum génio. Dois
tomos, 560 páginas, uma obra arrebatadora.
No prefácio de Cromwell (1827), Victor
Hugo deixara já o manifesto do Romantismo emergente, a nova arte que se afirmava
pelo abandono da estética rígida do classicismo, pela liberdade de pensamento e
de criação artística. A exaltação da Idade Média como época fundadora das nacionalidades
europeias; o românico e o gótico como modos artísticos por excelência.
Romance compósito, de difícil classificação
genológica, situa-se entre o histórico e o picaresco, entre o cómico e o trágico.
Tem capítulos que são verdadeiras pérolas de erudição, como, por exemplo, o
capítulo II do livro terceiro do primeiro tomo, “Paris vista de relance”,
tradução possível, ainda que desgostante, do original “Paris à vol d´oiseau”.
Estou a acabar de ler para o Clube
de Leitura do Museu Ferreira de Castro (amanhã, 3-1). Abstenho-me de interrogativas: vale a pena!
7 comentários:
"..... 'AN' ATKH .... Foi sob a impressão desta palavra que este livro foi escrito."
Incluído no prefácio de "Notre Dame de Paris" ... tenho-o em cima da mesa de cabeceira :)
Sim, Custódia, essa palavra desapareceu entretanto no muro pintado ou raspado. Uma mutilação de mensagem inscrita por pedreiro da Idade Média. O livro exprime preocupação por essas mutilações e pelo mau estado de conservação em que no século XIX se encontravam os monumentos medievais. Defende a sua recuperação. Parece que teve efeito junto do poder político e a catedral de Notre-Dame terá sido a primeira a ser beneficiada.
Interessante é a descrição da Paris de finais do século XV. Três partes distintas: no centro, a ilha do bairro da catedral; a sul, a zona estudantil e dos colégios (hoje Quartier Latin, Saint-Germain-des-Prés); do outro lado do rio a cidade propriamente dita(Tulherias, Louvre).
Depois há o triângulo Quasimodo-Esmeralda-Cláudio Frollo. E mais, muito mais!
Como este livro faz parte daquele grande bolo dos livros que estão sempre na calha e nunca calha ler, veio agora a propósito voltar a ele, também a propósito do Vitor Hugo político e portanto implicado nas grandes decisões políticas que afetaram o património urbano e arquitetónico da Paris de Haussmann, Paris des Grands Travaux, que moldou a cidade tal como a conhecemos hoje (não tiveram um terramoto ou um grande incêndio...). Enfim, ponto de vista para mim sumamente interessante, eventualmente a desenvolver, à parte os clichés que sempre acompanharam O Corcunda... E talvez me tenham afastado do essencial.
Livro muito falado, filmado, teatralizado e até animado (DisneY salvo o erro), mas pouco lido. Um daqueles em que infelizmente nunca peguei...Fico-me pela vontade.
Amélia, deve ser interessante a visão urbanística que Hugo, o multifacetado, dá da Paris medieva, da qual, na época da redacção, muito subsistiria ainda. O resto terá sido idealizado.
Enfim amigos, em Sintra não poderei estar: consultas marcadas e outros afazeres, para além de, imperdoavelmente, não ter lido este clássico :(.
Manel, vê lá isso do livro do autor Querido :).
Sobre a Paris do barão de Haussmann, esse grande destruidor-construtor, ver Baudelaire, poema "Le cygne", curiosamente dedicado a Victor Hugo:
"Paris change! mais rien dans ma melancolie / N´a bougé! palais neufs, échafaudages, blocs, / Vieux faubourgs, tout pour moi devient allégorie, / Et mes chers souvenirs sont plus lourds que des rocs."
Que me perdoe o poeta ... mas abençoado Imperador que deu carta branca a Haussmann para fazer de Paris, aquilo que todos conhecemos. Estar ao centro em Étoile, rodar à nossa própria volta e admirar as maravilhosas avenidas é qualquer coisa de extraordinário. E isto é só uma ínfima parte da obra :)
Paris, Paris,...ah! Uma canção cantada pela...Catherine Deneuve...:)
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