24 janeiro 2014

Sob o signo de Amadeu

Por falar em jovens pintores portugueses, prematuramente desaparecidos, cuja obra prometia, aproveito para mais uma «colherada» em arte e literatura. No CAM esteve uma exposição intitulada «Sob o signo de Amadeu. Um século de arte.» O século de arte disse-me pouco. Não sou uma entendida em arte contemporânea. As instalações e peças em vários e inusitados suportes, que não os clássicos, deixam-me sempre atónita, varada, indiferente ou soltando uma gargalhada. Se calhar é a provocação que se pretende. (Não levem a mal o meu desconhecimento).
Do que realmente gostei foi do pequeno núcleo de artistas do início do séc. XX e da grande mostra de Amadeu. Amadeu, que deixaria o público do seu tempo talvez tão surpreendido como as obras mais recentes me deixam a mim, toca-me pela composição, plasticidade e cor. O conjunto de desenhos, achei-o maravilhoso, combinando elementos exóticos, com um imaginário medieval e outros e uma incrível estilização.
E, em ligação à literatura, não se esqueceu o autor, do «nosso» fidalgo de manchego, do seu «ginete» e do seu dedicado criado, Sancho, convenientemente estirado na sua manta, no desenho «O Moinho».
De sublinhar também as ilustrações para o conto de S. Julião Hospitalário, de Flaubert (1877), inspirado(?) nos vitrais medievais da catedral de Ruão, que também Monet pintou.
Segundo o site http://www.snpcultura.org/tvb_a_lenda_s_juliao_hospitaleiro.html :
« No final do conto - “Esta é a história de São Julião Hospitaleiro, mais ou menos como é contada num vitral de igreja, na minha terra” -, Flaubert convida o leitor a um programa de investigação hermenêutica. A cópia e a ilustração de Amadeo respondem-lhe com um desafio equivalente.»
Amadeu teria passado férias na Bretanha em 1912 e a Normandia fica perto, ou talvez não haja ligação. Mas o conto, em francês , foi soberbamente ilustrado.E fiquemo-nos por aqui, porque isto não pára!
Fiquemo-nos com a Biblioteca em Chamas de Viera da Silva, também ali exposto. Uma bela imagem para a nossa paixão pelos livros.

D. Quixote, Amadeu de Souza Cardoso

O Moinho

A Procissão de Corpus Christi

O Príncipe e a Matilha


Catedral de Rouen, Claude Monet


Edição ilustrada da  «La Légende de Saint Julien l'Hospitalier», de Gustave Flaubert


Ilustração de «La Légende de Saint Julien l'Hospitalier»

A Biblioteca em Chamas, Helena Vieira da Silva


6 comentários:

Manuel Nunes disse...

Não vi a exposição do CAM. Fui à da Gulbenkian - a grande exposição! - há 3 ou 4 anos, não estou certo, o tempo passa depressa. Gosto muito de Amadeo, outro artista que partiu cedo.
Ver em Mário Cláudio, na "Trilogia da Mão" ("Amadeo", "Guilhermina", "Rosa"). Pintura e Literatura, outra vez. Bem, mas antes temos o "Oríon" - espera-se o teu contributo específico.

Paula M. disse...

É verdade!Cá temos outra ligação.
Quanto ao «Oríon» nem pistas tenho! :)

Paula M. disse...

Já me inteirei. O exílio das crianças judias para Cabo Verde no séc. XV, a mando d'el rei D. João II, ordem menos perfeita do Princípe Perfeito. Assim como assim em breve Maquiavel escreveria «O Príncipe», e lia-se hoje numa ficha do 8º ano:«o primeiro manual de ciência política». Por isso é que as coisas (ainda)estão como estão.digo eu , que de política nada tenho.

Paula M. disse...

E assim se passa do Amadeu, via D. Quixote e Flaubert, para o Mário Cláudio, D. João II e acaba-se no Maquiavel. Andamos um bocado descontrolados :)

Manuel Nunes disse...

Samuel Usque : os meninos que foram mandados para os lagartos.

Custódia C. disse...

Também gosto muito do Amadeo.
Vi a exposição de 2007 (muito boa) e recordo com saudade a nossa visita ao museu de Amarante :)